Sobre o Capitalismo preto e o que ele significa (Landon Williams)






Landon Williams, membro do Partido dos Panteras Negras


Enquanto lia o jornal no outro dia, eu vi onde em Oakland está sendo construída a área planejada para o ardiloso PLANO PARA O CAPITALISMO PRETO de Dick Nixon.
Parece­me que uma análise mais profunda do capitalismo em geral e do capitalismo preto em particular parece iminente. Quando investigamos a história de vários países neste planeta, descobrimos que muitas nações e raças têm entrado no saco capitalista. Quando investigamos a história russa, descobrimos que, com o fim do governo do Czar, o capitalismo russo chegou ao fim. Quando investigamos a história da China e do capitalismo amarelo, descobrimos que, com a chegada ao poder de Mao Tsé­Tung e do partido comunista da China, o feudalismo e o capitalismo burocrático aos quais as pessoas amarelas na China estavam submissas tem sido esmagado. Quando investigamos a história de outros países que se tornaram capitalistas, como a Índia e o capitalismo marrom, descobrimos que hoje a Índia está em um constante estado de turbulência.
Penso que, analisando países capitalistas, deveríamos levar em consideração as forças motrizes básicas, as motivações e razões fundamentais para as coisas que ocorrem nesses países capitalistas. Por exemplo, investigando a economia, descobrimos que em países capitalistas uma alta taxa de desemprego, algumas vezes de 10%­15%, não é algo espetacular, mas antes que para um país capitalista manter o balanço econômico esse tipo de taxa de desemprego é essencial para manter um controle da inflação. Em uma investigação mais profunda do capitalismo e de como ele está relacionado ao povo preto deste país, se queremos descobrir o que o capitalismo tem reservado para todos nós, tudo o que temos de fazer é olhar ao redor e analisar nossa situação atual, porque as condições nas quais o povo preto está neste país se devem diretamente ao capitalismo e à exploração que nós temos sofrido nas mãos das classes dominantes racistas e capitalistas aqui, na América racista. Nós descobrimos que, nos dias do tráfico de escravos, mercadores capitalistas ao longo de toda a costa leste deste país se ficaram podres de ricos com o sangue, as lágrimas e o suor do povo preto que era transportado nos porões dos navios, empacotado como sardinhas, para este país racista e decadente, a fim de trabalhar, servir como escravo e morrer nos campos para construir este país.
O capitalismo, como todos sabemos, para existir precisa ter alguma coisa ou alguém para explorar. O que nós temos aqui na América é supercapitalismo, superexploração; bugigangas e drogados estão sendo vendidos às pessoas por preços exorbitantes. Lidando com o capitalismo preto, ou o pouco disso que temos experienciado neste país, checando 100 FATOS NOTÁVEIS SOBRE OS NEGROS, de J. A. Rogers, nós descobrimos que antes da Guerra Civil havia poucos capitalistas pretos neste país. Esses capitalistas pretos, até certo ponto, gozavam de alguns dos benefícios e privilégios deste país, na medida em que eles eram denominados homens livres e, como tais, podiam possuir escravos e propriedades. Investigando ao longo da história, descobrimos que muitos desses homens livres ou capitalistas pretos em miniatura não tinham nenhuma preocupação ou qualquer sentimento pelo restante de seus irmãos e irmãs pretas; em muitas ocasiões, eles eram mais brutais do que os senhores de escravos brancos e culpavam seus irmãos por impedi­los de saborear todos os frutos da classe capitalista branca. Durante a Guerra Civil, quando o Norte e o Sul supostamente lutaram para libertar os escravos, descobrimos que alguns desses capitalistas pretos na verdade lutaram ao lado dos confederados para ajudar a manter a exploração de seus irmãos pretos. Então, quando o povo preto começa a ver palavras como ‘capitalismo’, isso deveria aterrorizá­lo.

Vejam, nós temos sido treinados neste país de tal modo que sempre que vemos a palavra ‘comunista’, por exemplo, muitas pessoas pretas ficam sobressaltadas; mas, ainda assim, elas veem a palavra ‘capitalismo’ e isso mais ou menos não as afeta, de todo. Elas apenas seguem adiante; essa é apenas uma palavra cotidiana, alguma coisa com a qual elas cresceram envolvidas. Mas eu penso que, se as pessoas pretas parassem e realmente investigassem o que a palavra ‘capitalismo’ e o que o capitalismo significam em uma base cotidiana, elas começariam a ficar aterrorizadas com a palavra. Eu mesmo, quando vi essa coisa, “Oakland” estando “envolvida com o capitalismo preto”, para mim isso foi algo muito, muito aterrorizante porque, como disse anteriormente, tenho conhecido exemplos do que o capitalismo tem feito.
Pessoas pretas neste país devem começar a formar os conceitos corretos em suas mentes quando ouvem a palavra ‘capitalismo’. Neste país, nas escolas, quando se trata do pouco treinamento que eles nos oferecem quando lidam com a América ou com o capitalismo, eles lidam com o capitalismo democrático e ensinam sobre a democracia, não sobre o capitalismo. Os resultados são que, quando as pessoas pretas veem as palavras “Oakland está envolvida com o capitalismo preto”, imediatamente estrofes do hino nacional dos Estados Unidos começam a tocar em suas cabeças e eles veem a bandeira tremulando, quando o que deveriam ver é o bombardeio de napalm sobre pessoas não­brancas no Vietnã e o assassinato de Che Guevara na Bolívia pelos agentes racistas estadunidenses da CIA. Quando pensamos sobre capitalismo, nós também deveríamos pensar sobre nossos irmãos e irmãs no Congo. Há um panfleto intitulado REVOLUÇÃO NO CONGO que cada pessoa preta na América deveria ler, e assim vocês descobririam como o capitalismo opera. Por exemplo, quando os Estados Unidos intervieram no Congo e Patrice Lumumba, escolhido pelo povo como Primeiro­ Ministro, foi assassinado por aquele cão traidor Tshombe, que era um cão a serviço dos capitalistas estadunidenses e belgas e daquele falso liberal, Kennedy.
No momento da intervenção estadunidense, havia grandes minas de cobre em Katanga e em outras províncias do Congo. Há uma empresa nos EUA chamada Kennecut Mines, e eles controlam a maior parte do suprimento mundial de cobre. Bem, no momento da intervenção no Congo, a oferta de cobre tinha começado a ultrapassar a demanda, e o preço do cobre tinha começado a cair.
Bem, esses capitalistas que se sentam e controlam o Chase Manhattan Bank e outros grandes bancos e indústrias fizeram milhões vendendo mais de 10.000 libras de bombas estadunidenses para bombardear a indústria mineradora e o povo do Congo até reduzi­los a destroços, massacrando assim os concorrentes.
Hoje, na América, o homem de negócios e dono de terras capitalista explora você na escola e na casa, e então ao mesmo tempo ele vai à igreja, ajoelha sua grande e hipócrita bunda de costeleta de porco e fala sobre fraternidade e sobre fazer aos outros o que você gostaria que fizessem para você. E quando você lhe pergunta como justifica as ferozes práticas de negócios pelas quais se deixa levar, ele afirma simplesmente que negócios são negócios.
Bem, eu penso que deveríamos observar bem de perto o que são os negócios capitalistas. Como eu disse, no Congo, eles consistem em lançar 10.000 libras de bombas no povo preto de lá. Antes da Segunda Guerra Mundial, o capitalista deste país que lidava com ferros­velhos estava fazendo milhões de dólares vendendo sucata de ferro e aço para os imperialistas japoneses, que estavam travando uma injusta guerra de agressão contra o povo chinês. A opinião pública era amplamente contra essa prática. Mas, novamente, a desculpa de que “negócios são negócios” foi utilizada.
Nos domínios da competição, o capitalista neste país se move de muitas formas. Com o início da Segunda Guerra Mundial, milhares de nossos irmãos amarelos foram encarcerados nos chamados campos de detenção, que não eram nada além de campos de concentração. A razão oferecida para seu aprisionamento é que eles eram uma ameaça à segurança, quando na verdade isso ocorreu por racismo norte­americano e capitalismo norte­americano. O racismo foi evidenciado    pelo fato de que centenas de milhares de cidadãos alemães e italianos não foram encarcerados, mas em vez disso lhes foi permitido que permanecessem livres para sabotar o esforço norte­ americano na guerra.
Os japoneses, naquela época, possuíam consideráveis plantações de arroz na Califórnia; na verdade, eles tinham causado apreensão em todo o comércio de arroz. Nós descobrimos, no entanto, que quando eles foram deslocados, foram forçados a vender tudo por valores irrisórios, e em muitos casos suas terras foram simplesmente tomadas – mais uma vez, negócios são negócios. Então, vocês podem ver que eles foram encarcerados por motivos racistas e por motivos capitalistas. Recuando mais e investigando a história deste país, nós descobrimos que quando a Guerra Civil acabou, às pessoas pretas deste país foram prometidos quarenta acres e duas mulas pelo Gabinete de Libertos. Quando verificamos a história, nós descobrimos quem obteve os quarenta acres e as duas mulas. Investigando, descobrimos que as grandes indústrias capitalistas, como a Standard Oil, obtiveram a terra. A Standard Oil pegou meus quarenta acres e minhas duas mulas. Para eles, isso era apenas negócios. E, mais uma vez, o massacre dos indígenas ou o Destino Manifesto, que o homem branco glorifica na TV, não era nada além de “negócios são negócios”.
O branco capitalista neste país, as indústrias mineradoras, as empresas petrolíferas e os proprietários de terras que esperavam estabelecer seus próprios pequenos reinos, esses senhores da guerra na América, para ganhar mais terra, instigariam incidentes com os indígenas a fim de que pudessem convocar a cavalaria e o exército estadunidenses e então roubar dos indígenas mais terras, e novamente a razão que nos foi oferecida foi que “negócios são negócios”. Então, pessoas pretas devem começar a entender de que tratam aquela competição cruel e aquela constante motivação por autorrealização e satisfação pessoal que são pregadas nos países capitalistas. Quando vamos até a loja da esquina e descobrimos que nos estão sendo cobrados os mais altos preços pelos piores cortes de carne e, em muitos casos, a carne está velha e apodrecida.
Nós deveríamos começar a formar conceitos sobre o que o capitalismo significa em uma base real, no dia a dia. Pessoas pretas se preparam para enfrentar isso cotidianamente.
O que o capitalismo tem significado para a vasta maioria dos povos do mundo? Penso que essa é uma questão que devemos fazer a nós mesmos. Quando olhamos em volta, descobrimos os países onde o capitalista da América obtém a maior parte dos seus recursos, essas colônias e semicolônias que são chamadas de países subdesenvolvidos do mundo. Quando os observamos, descobrimos que lá eles têm a maior taxa de mortalidade infantil e índices de mortalidade no mundo, e os piores padrões de vida. Por que é assim? O povo preto não pode aceitar o que nosso inimigo nos diz, sobre ser totalmente inclusivo. Malcolm X dizia que, se você precisava confiar no seu inimigo para conseguir um trabalho, você estava em uma situação ruim. Também é verdade que, se você precisa confiar no seu inimigo para

obter informação, você está em uma situação ruim. Pessoas pretas devem começar a formar os conceitos adequados sobre o que exatamente o capitalismo é e sobre o que ele envolve, de modo que elas possam começar a lidar com a situação do modo correto.
Nós descobrimos, mais uma vez investigando a história, que quando capitalistas se mexem, eles o fazem por caminhos demoníacos e fraudulentos, a fim de controlar e manipular os governos e as pessoas por todo o mundo. Tomando novamente o exemplo do Congo, eles usaram seu esquema favorito, a falsa trama de uma conspiração comunista, e disseram que Lumumba era um pró­comunista e que Tshombe era pró­ocidental. Mais uma vez, isso é somente um truque, um pretexto ou artifício que os capitalistas usam para encobrir suas negociações sujas e fraudulentas.
Na China, foi a mesma coisa. Quando os EUA estavam apoiando o regime pirata de Chiang Kai­shek, eles disseram que o presidente Mao Tsé­Tung era pró­comunista e que Chiang Kai­shek era pró­ocidental.
Naqueles tempos, as pessoas pretas deste país em geral aceitaram isso sem olhar mais a fundo e ver o que significava ser pró­comunista ou pró­ocidental. Em um exame mais aprofundado dos fatos, nós descobrimos que o pirata Chiang Kai­shek, que era pró­ocidental, era também pró­ capitalista e pró­exploração, enquanto Mao Tsé­Tung, que era pró­comunista, era a favor das pessoas e a favor dos camponeses. Por outro lado, você tinha Chiang Kai­shek, que roubou do povo e era um instrumento que o imperialismo estadunidense usou para ajudar a manter seu domínio e exploração sobre o povo chinês, enquanto o presidente Mao e o partido comunista da China estavam lutando pelo poder para o povo e para pôr fim à exploração das pessoas.
Nós vemos esse mesmo truque hoje, nas notícias, quando J. Edgar Hoover diz que o Partido Pantera Negra é uma ameaça à segurança dos EUA, que nós estudamos o Livro Vermelho e que nós somos pró­ comunistas – a que tipo de ameaça ele se refere, e o que é o Livro Vermelho? Ao examinar melhor, descobrimos que o objetivo primário do Partido Pantera Negra é “Estabelecer um poder político revolucionário para o POVO PRETO”. E que, entre os princípios que nós estudamos no livro vermelho, estão princípios como “sem um exército popular, o povo não tem nada”. Huey P. Newton, nosso fundador e Ministro da Defesa, tem afirmado que “Um povo que está desarmado ou é escravo ou está sujeito à escravidão em qualquer momento”. Nós sabemos que é apenas porque as pessoas estão armadas e desorganizadas que os porcos racistas estão aptos a passar por cima delas.
Sempre que nós investigamos uma situação capitalista, nós encontramos a mesma coisa. Antes, eu mencionei a Rússia czarista; bem, se você investigar a história, descobrirá que o Czar e o regime capitalista na Rússia eram governados e dominados por umas poucas pessoas. Você tinha os muito ricos no topo, junto da nobreza e dos círculos internos do regime czarista. Você tinha os camponeses que estavam passando fome, as massas populares, na parte de baixo. Quando você investiga a história chinesa, a mesma situação se aplica. No Congo, antes que Lumumba viesse ao poder e depois que ele foi assassinado, mais uma vez você tinha umas poucas pessoas no controle da economia e da riqueza do país, e o resto das pessoas estava passando fome. Eles costumavam exibir imagens da China em um programa de TV chamado The Twentieth Century. Exibiam filmes da China antes e durante a guerra revolucionária.
Costumavam exibir os muito ricos e os senhores da guerra que saquearam a zona rural da China se tornando mais e mais ricos enquanto os camponeses, que eram muito pobres, estavam se tornando mais e mais pobres. Aqui, mais uma vez, os proprietários de terras eram pró­ ocidentais ou pró­capitalistas, e os camponeses eram pró­comunistas ou pró­ orientais. Quando nós investigamos essa situação, descobrimos que em todos os países que se moveram para conquistar sua libertação nacional e “autodeterminação”, as pessoas estavam se afastando de posições capitalistas, em direção a posições socialistas ou comunistas. Quando as pessoas nesses países começaram a lutar para controlar seus próprios destinos, perceberam que, enquanto o poder permanecer investido nas mãos de uns poucos capitalistas ou nas mãos de uma classe capitalista exploradora, o povo nunca obterá quaisquer poderes para si.
Quando nos aproximamos de casa e nos atualizamos, podemos analisar a situação da América Latina, e vemos ocorrendo a mesma coisa que ocorreu na China e na Rússia. A América Latina, como um todo, foi transformada em uma reserva privada para o capitalista da América. Se você olhar para a América Latina, verá que antes que Fidel Castro e o povo cubano tomassem o poder em Cuba, o poder estava investido nas mãos de Batista. Agora, Batista não era nada além de uma marionete ou um instrumento do imperialismo e do capitalismo estadunidenses. No Hotel Havana Hilton, os  capitalistas ricos e decadentes dos EUA costumavam relaxar ao sol e entregar­se às “suas práticas sexuais decadentes e outras perversões”. A música de Bob Dylan “Ballad of the Thin Man” e Mr. Jones diz que o senhor Jones foi a um show de aberrações, pagou para entrar e ver o louco, e o louco estava comendo carne crua em um osso. Bem, o louco deu o osso para o senhor Jones e disse: “Como você se sente sendo uma aberração?” Bem, examinando isso, nós descobrimos que o que o louco quis dizer é que ele estava comendo a carne crua porque apenas dessa forma ele poderia sobreviver; mas o senhor Jones, que nesse caso seria a classe capitalista da América, era a verdadeira aberração, porque estava pagando para ver alguém fazer coisas desse tipo. Bem, em Cuba, antes que o poder fosse arrancado do imperialismo estadunidense e de seus cães, toda a Havana era um grande cercadinho para os EUA.
Os capitalistas nesse país criaram a prostituição em massa e organizaram o crime com sua contaminação sórdida. Quando Fidel Castro tomou o poder das mãos do capitalista estadunidense e o devolveu ao povo, descobrimos que o capitalismo estadunidense reagiu de uma forma muito violenta. Batista foi apoiado até o limite e mais de 10.000 libras de bombas estadunidenses foram vendidas para Batista e lançadas sobre o povo cubano. Mais tarde, os EUA instigaram, financiaram, organizaram e apoiaram a invasão de Cuba pela Baía dos Porcos, que foi esmagada pelo heroico exército popular cubano.
Hoje, mais de uma década depois, descobrimos que o capitalismo estadunidense está engajado em outro ato criminoso contra o povo cubano, que como todos os outros planos capitalistas está condenado a falhar. O bloqueio econômico de Cuba pelos EUA.
Aproximando­nos de casa mais uma vez, descobrimos que aqui em nossas comunidades pretas, se as pessoas pretas querem exemplos do que o capitalismo é e de quais são seus efeitos, tudo o que têm de fazer é olhar em volta, em direção às várias prisões e cadeias. Não é apenas uma coincidência que em todas as colônias e semicolônias você tenha um assim chamado elevado índice de crimes. Esse índice está diretamente relacionado à exploração e opressão pela classe capitalista dominante. O índice de crime e de prostituição em nossas comunidades está diretamente relacionado à baixa educação, moradias precárias, falta de roupas, falta de empregos e um sempre presente estômago faminto. Essas coisas, mais uma vez, podem ser diretamente atribuídas ao capitalismo e à exploração. Os guetos deste país não estão aqui por acidente. Eles são um lugar onde uma fonte prontamente disponível de força de trabalho barata pode ser despejada e armazenada até que seja necessária, e com um mercado para se despejar bilhões de dólares em bens baratos e serviços corruptos. Então, os guetos na América não estão aqui por acidente. Eles são estabelecidos e mantidos por capitalistas neste país, visando a uma finalidade e formato específicos.
Mais uma vez, verificando a história, nós descobrimos que nos dias de escravidão havia duas classificações. Havia o negro do campo e havia o negro da casa. Os negros do campo sempre superavam em número os negros da casa, mas os negros da casa trabalhavam em conjunto com o mestre de escravos para ajudar a manter a opressão de seus irmãos e irmãs pretas. Hoje, descobrimos que esses capitalistas pretos que estão sendo estabelecidos e impulsionados por Nixon e pelos círculos dominantes capitalistas neste país nada são além das contrapartes, nos dias modernos, daqueles velhos negros da casa, e onde o negro da casa pegaria os restos do prato do mestre, esses capitalistas pretos pegarão os restos dos pratos dos capitalistas brancos. Para tomar um caso particular, temos o exemplo do negro que possui o Lava a Jato Rainbow em East Oakland, que diz que a única coisa que poderá salvar a raça preta é que ela se torne como a raça branca, e que o povo preto é inferior ao povo branco. Podemos ver a que ponto essa busca pelos restos do prato do mestre pode se tornar uma perversão. Nós também temos os tolos que apoiaram Wallace em sua última eleição presidencial. Na Bíblia, há uma parábola que se relata estreitamente com aquilo de que estamos falando, quando Cristo falou sobre um Lázaro rastejante, mendigando à porta. É o mesmo que esses assim chamados capitalistas pretos que estão mendigando ao homem branco que os deixe entrar no sistema de exploração, em vez de se levantarem e destruírem o próprio sistema de exploração, livrando a si mesmos de uma vez e para sempre desse problema. O mestre de escravos, que nesse caso é o capitalista dos dias modernos, não é tolo, e por todo o tempo que puder sobreviver sem abrir mão de qualquer coisa, ele não abrirá mão de qualquer coisa. Agora que as pessoas pretas ampliaram seu clamor por justiça e liberdade e começaram a travar conscientemente uma guerrilha, as classes dominantes capitalistas deste país, que são como mestres de escravos de alcance mundial, passaram a oferecer restos de sua mesa para o povo.
Investigando ao redor, descobrimos que o premiê Thieu e o vice­presidente Ky, do Vietnã do Sul, estão na posição de negros da casa. Eles são os negros da casa do Vietnã. Do dinheiro, prestígio e poder que reside em suas mãos, pouco – se alguma parte – chegou até o povo em algum momento. Na China, foi do mesmo jeito.
Chiang Kai­shek era nada mais do que um negro da casa chinês, um chinês capitalista. Nada do dinheiro e do poder que estavam investidos em suas mãos desceu até as massas do povo chinês. Tudo o que eles ganharam foram a bota de ferro, os porretes e as balas das tropas de bandidos de Chiang Kai­shek. Quando investigamos Cuba, houve a mesma situação. Batista era outro negro da casa, e tudo o que o povo recebeu dele foi um excesso de 10.000 libras de bombas e o napalm da força aérea estadunidense. E, neste país, os capitalistas pretos têm as mesmas posições que Batista, Chiang Kai­shek e os negros da casa da escravidão americana. Dos restos que lhes são dados, poucos, se alguns, encontrarão caminho até as massas populares famintas.
Então, o que o povo preto precisa perceber é que qualquer coisa que o inimigo lhe ofereça como solução para seu problema não é apropriada, porque seu inimigo nunca lhe cederá qualquer coisa que possa ajudar a derrotá­lo. O que nós devemos fazer é construir nossas próprias definições e análises da situação, a fim de encontrar soluções que lidarão concretamente com o problema que nos confronta. No PARTIDO PANTERA NEGRA, nós temos uma prancha com os 10 pontos de nossa plataforma que lidam especificamente com o capitalismo. Ponto número 3: “Nós queremos um fim para o roubo de nossa comunidade preta pelo homem branco”. Quando dizemos isso, queremos dizer que nós queremos um fim para todos os tipos de roubo. Um fim para o roubo de nossa juventude, que a envia a 8.000 milhas de distância para ser assassinada e esquartejada e usada como bucha de canhão, a fim de ajudar a sustentar uma guerra de agressão imperialista. Um fim para o roubo e destruição das mentes de nossas crianças por escolas e administrações racistas. Um fim para o roubo e estupro dos corpos de nossas irmãs por pervertidos racistas e capitalistas que não merecem o nome de homens. Um fim para o roubo de homens pretos proativos, através do assassinato e aprisionamento pela cooptação das assim chamadas lideranças pretas, por planos como o plano capitalista preto de Nixon.
O Partido Pantera Negra é um partido que está determinado a agir por todos os meios necessários para atingir os fins corretos. Nós, no Partido Pantera Negra, nos recusamos a sermos enganados pela palavra ‘preto’. Percebemos que o capitalismo, o capitalismo burocrático como ele existe no mundo de hoje, exatamente aqui e agora, é nosso inimigo principal, e não importa que prefixo de cor você coloque nele, resulta o mesmo. Tão sangrento e tão vil como sempre. E quando nós pensamos sobre o capitalismo, imediatamente tomamos como quadros de referência o napalm e os jatos no Vietnã, os assassinatos da CIA no Congo e na Bolívia, os porcos racistas paraquedistas estadunidenses e os povos do mundo sendo assassinados. Se o povo preto ainda precisa de alguma orientação externa sobre como lidar com o capitalismo, olhemos para os valentes vietnamitas.


Retirado da antologia dos Panteras Negras organizada pela editora Nova Cultura que pode ser adquirida aqui: https://www.novacultura.info/product-page/antologia-1-panteras-negras

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