Um choro conveniente



Uma triste notícia foi dada através do telefone, K., a prima mais velha atendeu o aparelho, logo sua expressão pesou e toda a família, aflita e ansiosa, reuniu-se ao redor da jovem, antevendo a péssima notícia, enquanto paradoxalmente procuram manter uma última chama de esperança acesa. Porém a verdade cai como a noite.
- O vovô morreu! – Exclama ela, chorando volumosamente, logo sendo acompanhada pelo resto da família.
Se instaura um coro choroso na sala de estar, ecoam comentários rangidos.
- Ele morreu sozinho! – Exclamam alguns.
Em meio ao mar de pranto um outro sentimento se forma, apreensão, pois todas as crianças haviam sido levadas pelo instinto de bando a chorar junto com suas mães e tias, com exceção de uma. Esta criança, em específico, não conseguia verter uma lágrima sequer, pois mal havia tido contato com o velho, isso a encheu de temor, pois se todos choravam, ficaria feio se não o fizesse também. Por dois minutos procurou, se esforçou, mas nada de lágrimas.
Quando, entretanto, percebeu que não era capaz de chorar por seu avô, desatou a chorar, ainda mais do que as outras crianças, de constrangimento e temor.
Aparentemente só não há jeito para a morte.

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