Existir não é resistir
De
certa forma todos os trabalhadores e trabalhadoras, pessoas pobres e
assalariados em geral resistem todos os dias, acordando cedo, pegando dois ou
três transportes para chegar ao trabalho do qual o menor atraso é capaz de faze-lo
perder seu meio de vida, única forma de se sustentar e alimentar seus filhos e
filhas. Também é verdade que pessoas trans enfrentam uma realidade adversa ao
extremo, não tendo acesso ao trabalho, muitas vezes, regular, assim, é certo
que pessoas trans resistem em forma cotidiana, de um determinado ponto de vista
é correto também afirmar que “sair do armário”, revelar-se, mais do que
descobrir-se trans é um ato de coragem, pois isto implica enfrentar a rejeição
familiar e todos os tipos de revezes, o que é para poucos e poucas.
Diante
de tais fatos inegáveis, cabe constatar que não é esta a forma de resistência
de um militante ou defensor de uma causa e, ora, não é a luta conta a Lgbtfobia
uma causa? Então devemos definir dois tipos de resistência: A primeira, esta na
qual me detive, é a resistência passiva, a sobrevivência, esta resistência a
qual estamos pelo nosso lugar de classe, condenados a exercer para sobreviver;
a segunda, a qual viso incentivar aqui, é a resistência ativa que visa
organizar-se, atuar diretamente, visando mudar esta realidade.
É
muito dito por grupos oprimidos: “Eu sou resistência.”. É isto correto? lembremos
do primeiro parágrafo, se é assim, todos os trabalhadores e trabalhadoras o
são, embora alguns grupos dentro da classe trabalhadora, em especial as pessoas
trans, sofrem para sobreviver mais do que os outros. Resistência não é
identidade, é um estado, um fardo, nos dois sentidos colocados, tanto trabalhar
ganhando pouco como tirar tempo e estressar-se organizando um movimento social,
e ninguém conhece mais o sofrimento do dia a dia do que as pessoas trans,
abandonadas pela família e relegadas a prostituição, elas sabem muito bem o
fardo de resistir, mesmo que passivamente.
Resistir
não é uma identidade, não é um ser, é um estado que recai sobre o ser, um ato
direto sobre a realidade.
Pensar
que se “é” resistência é um pensamento falho, o objetivo da resistência é
esgotar a si mesmo, quem luta o faz para que não seja mais necessário lutar,
pois um mundo em que as pessoas LGBT’s, em especial as pessoas trans, precisam
lutar, é um mundo em que estas pessoas tem seus direitos, expectativa de vida
de 35 anos, são espancadas e violentadas todos os dias, assim, a necessidade de
lutar implica algo a ser vencido... E o mais rápido possível.
Resistir
é um fardo, pois o motivo de resistirmos é o nosso sofrimento e o sofrimento de
terceiros. Sofrer não é ser, sofrer é um infeliz estado e sem uma resistência
ativa que vise esgotar-se este sofrimento será permanente.
Mas
como resistir de forma ativa? Organizando-se, entrando em movimentos sociais,
partidos políticos, estudando a própria condição e ensinando a outras, indo a
protestos, apoiando greves e ocupações e entre outras maneiras. Isso não é
pouco, não é ilusão.
Um
mundo onde pessoas trans não sejam condenadas a marginalização, silenciamento,
erotização e prostituição é possível, mas só será alcançado através da nossa
luta organizada, com fins pensados. A nossa ponte entre o mundo que vivemos é
um mundo mais humanizado chama-se resistência ativa.
Existir
não é resistir, mas agir sim. Você, pessoa trans, que sofre, tem o papel de
mudar esta realidade e, ao lutar, melhorar também os movimentos nos quais
milita, leva a eles a prova viva de que a sua causa é sim relevante. LGBT’s são parte da classe trabalhadora, uma
parte mais rejeitada e sofrida sim, mas ainda assim parte dela, façam com que
percebam que sem vocês não há revolução possível, só provarão isso se entrarem
na luta.
Pessoas
trans, as queremos na luta! Sua ajuda e participação é vital, não acreditem que
um novo mundo é impossível, ele não é apenas possível, como não existirá sem
sua força.
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo três livros publicados, também é graduada em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo três livros publicados, também é graduada em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
Texto necessário!!! Obrigado por isso!!!
ResponderExcluirMuito bom! Excelente reflexão!
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