Tempos sombrios: 30 anos da Constituição - não há o que comemorar

Em véspera do ato que é a festa de toda democracia: a votação universal e irrestrita, encontro-me, sei que igual a muito de vocês, perplexo e amedrontado pelos rumos que o Brasil e os brasileiros tomaram para si. É incabível dentro de uma democracia  que tantos grupos tenham se engajado no discurso contra a vontade do povo, contra a liberdade, contra os direitos humanos e contra o respeito as minorias, tornando o discurso "nós contra eles" uma arma de combate aguerrido e obstinado (e, em consequente falência, imbecil). 
Cada vez mais os homens e as mulheres deste país se distanciam dos valores democráticos e iluministas na busca insana de acalentar seus medos gerais, levando a nação para uma aventura fadada ao fracasso, como tantas outras que vivemos. 
Sinto-me particularmente apavorado com reações da imprensa tradicional ao "referendar" e "aprovar" em editoriais o ato de censura ilegal e inconstitucional (como disse o grande professor Lênio Streck) do ministro Luiz Fux ao denegar, em ação inapropriada, a entrevista do presidente Lula pelos veículos de imprensa, como a Folha de São Paulo, após autorizada pelo também ministro Ricardo Lewandowski. Abisma-me incomensuravelmente ver comemorações a censura prévia, visto que isto é muito mais do que uma "vitória" da direita sobre a esquerda, é um aplauso a medidas ditatoriais e a degeneração dos poderes constitucionais. Destarte, inaugura-se o vale-tudo dos poderes. Nestes momentos, infelizmente, padece o povo e os defensores dos verdadeiros valores basilares do sistema em que estamos inseridos. 
O momento nos enseja a perscrutar os últimos 30 anos e nos perguntar qual foi o momento em que o brasileiro foi levado a renegar a história  (como fez o ministro Dias Toffoli ao nomear o golpe de 1964 como simples movimento de 64 - é ultrajante), os direitos e, além de tudo, a própria realidade, incorporando o discurso imperialista e retrógrado da década de 1960 e 1970? Ora, sinceramente, apesar de responsabilizar em parte os Partidos dos Trabalhadores (mais por suas omissões do que por suas ações) e muitas ações lava-jatistas que tentaram definir todo o sistema político como podre e corrupto (um ato de irresponsabilidade e má-fé), é indefinível um culpado único e central dessa questão. A radicalização, todavia, encontra em seu cerne a condição primordial da deterioração da economia brasileira e coincide com o recuo da qualidade de ensino e aprendizado no Brasil. 
É perigoso e sofrível, que no ano de comemoração de três décadas da Carta Magna, alguns membros da nossa egrégia suprema corte ultrajem a nossa constituição, que alguns presidenciáveis proponham novas leis máximas sem a participação do povo e que a população se encontre em êxtase perante a dilapidação daquela que nos meu deu o direito de escrever este artigo, de você, caro leitor, cara leitora, discordar ou concordar e nos deu o direito de amanhã discutir e determinar nosso futuro como nação brasileira. 
São tempos sombrios, os tempos em que a democracia encontra-se ameaçada e o discurso de ódio permeia a tantos de nós, de esquerda e de direita, e juntamente a esse discurso a incapacidade de empatia e o desrespeito a Constituição Cidadã. Se seremos livres e quem estará no Palácio dos Despachos (Planalto) em janeiro de 2019, o tempo nos dirá, porém, que não há caminho de volta ao discurso disseminado entre o povo senão a tragédia (ou, para ser mais apropriado ao discurso marxista, a farsa) isto é certo e límpido. Falhamos como nação e como cultura. Ver-se-á o que se sucede... 

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Josué da  Silva Brito 
Poeta e escritor 
Colunista dos sábados 



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