ACOMPANHE-ME



Em português:

Será criminoso aquele que espancar seu escravo ou escrava e estes morrerem durante o castigo.
Mas será vítima por prejuízo financeiro se a morte vier após algumas horas.
(Êxodo 21, 20s).

Nove dias para o segundo turno das eleições presidenciais. Pleito que independente do escolhido o povo já está derrotado. Derrotado não pela esperançosa seleção do candidato democrático. Mas por quarenta e nove milhões de brasileiros se permitirem levar pelos discursos inflamados de ódio e conduzidos pela ignorância daquele que não deve ser nomeado. Discursos que encontram eco nos corações e mentes dos milhões de alvos desses discursos.
Quase uma hora da tarde Benito Bardo Junior saiu de seu apartamento na rua Uberaba, Centro de Ipatinga. Seguiu pela Sabará, cruzou a Uberlândia, a Ouro Preto e antes de entrar na rua Mariana olhou os sibipirunas e outras árvores – nenhuma com flores –; recordou que pau-brasil está se extinguindo e pensando no Brasil tentou filtrar o barulho urbano para escutar os pássaros. Não conseguiu, mas persiste. Já ouviu e crê, com reservas, que ‘a esperança é a última que morre e a primeira a ressuscitar’.
Após breve instante, virou à esquerda e se espantou com a máquina, com os poucos policiais e outros tantos operários. Mais ninguém na rua. Caminhou as poucas centenas de metros até se aproximar do guindaste a suspender cinco pessoas – dois homens, três mulheres; uma idosa, dois adultos e dois jovens. Todos em quatro tons negros. – Cinco cadáveres à exposição.
Boquiaberto se aproxima do horrendo espetáculo à porta da Biblioteca Zumbi dos Palmares. Biblioteca cerrada com os dizeres “Isso não é um templo de Deus”.
À porta do Colégio Particular John Wesley: Vinícius Siman, Girvany de Morais, uma escritora emergente e duas outras pessoas observam a cena. Assustados nada fazem. Benito grita.
- Por que não tiram uma foto? Temos que registrar isso. Denunciar!
- Denunciamos em nossos escritos. Em nossos discursos. – Responde a emergente com a anuência dos demais.
- Agora não é hora só de literatura. – Grita. – Havemos de agir. Ação é o que precisamos. Palavras para anunciar. Escrita para denunciar. Imagens para mostrar e ação física, concreta.
- Hoje é lançamento do livro dela. É assim que faremos. – Responde Siman.
- Fotos! Fotos! Agora, antes que terminem de retirar o que mostraram. – Vão descendo os corpos a servir de exemplo.
- Ninguém viu. Ninguém vê. – Chora Girvany.
- Por isso as fotos. Por isso a escrita. Por isso as ações.
- Não empane meu momento. No lançamento a gente fala.
Saem os cinco. Olha os policiais conduzindo o espetáculo, os operários recolhendo os colegas.
Não sabe o que fazer. Por uns momentos...
Sabe sim. Pensa.
E faz.
Sozinho? ¿Solo? Is him alone?


En español:

ACOMPÁNÃME

Será criminal aquel que golpee a su esclavo o esclava y estos mueran en su castigo.
Mas será perjudicado financieramente si la muerte viniera después de unas horas.
Éxodo (21,20s).

Nueve días para el segundo turno de las elecciones presidenciales. Pleito que independientemente del elegido el pueblo ya está derrotado. Derrotado no por la esperanzada selección del candidato democrático. Mas por 49 millones de brasileros que se dejaron llevar por un discurso inflamado de odio y conducidos por la ignorancia de aquel que no debe ser nombrado. Discursos que encuentran eco en corazones y mentes de los millones de blancos de esos discursos.
Casi a las trece horas Benito Bardo Junior salió de su departamento en la calle Uberaba, Centro de Ipatinga. Siguió por la Sabará, cruzó por la Uberlândia, la Ouro Preto, y antes de entrar en la calle Mariana mirando los sibipirunas y otros árboles – ningún sin flores –; recordó que pau-brasil está extiguiéndose y pensando en Brasil intentó filtrar el ruido urbano para escuchar los pájaros. No lo consiguió, pero persiste. Ya oyó y cree, que ‘la esperanza es la última que muere, y la primera en resucitar’.
Después de un breve instante, dobló hacia la izquierda y se espantó con la máquina, los pocos policías y otros tantos operarios. Nadie más en la calle. Caminó unas pocas centenas de metros hasta aproximarse a la grúa que suspende a cinco personas –dos hombres, tres mujeres; una anciana, dos adultos y dos jóvenes. Todos en cuatro tonos negros– cinco cadáveres en exposición.
Boquiabierto se aproxima del horrendo espectáculo a la puerta de la Biblioteca Zumbi dos Palmares. Biblioteca cerrada con el dicho “esto no es un templo de Dios”.
En la puerta principal del Colegio Particular John Wesley: Vinicius Siman, Girvany de Morais, una escritora emergente y dos personas más observan la escena. Asustados nada hacen. Benito grita.
–¿Por qué no sacan una foto? Debemos registrar eso. ¡Denunciar!
–Denunciamos con nuestros escritos. En nuestros discursos. – Responde la emergente con la aprobación de los demás.
–Ahora no es hora sólo de literatura. –Grita. –Tenemos que actuar. Acción es lo que necesitamos. Palabras para anunciar. Escrita para denunciar. Imágenes para mostrar y acción física, concreta.
–Hoy es el lanzamiento del libro de ella. Es así como lo haremos. – Responde Siman.
– ¡Fotos! ¡Fotos! Ahora antes de que retiren todo lo que mostraron. – Van bajando los cuerpos que sirven de ejemplo.
–Nadie vio, nadie ve. – Llora Girvany.
–Por eso las fotos. Por eso los escritos. Por eso las acciones.
–No empañes mi momento. En el lanzamiento hablaremos.
Salen los cinco. Mira los policías conduciendo el espectáculo, los operarios recogiendo a los colegas.
No sabe qué hacer. Por unos momentos...
Sí sabe. Piensa.
Y hace.
¿Solo? Sozinho? Is him alone?


 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Tradução ao espanhol: Julian Cabral; natural de Buenos Aires (Argentina) e onde estudou inglês na Escola Superior nº 6 Vicente López y Planes; artista de rua especializado em malabares (argolas, devilstick e outros). Autodidata.
Imagens:
Pau-brasil  Foto do autor.
Autor – Foto do Vinícius Siman.
Tradutor – Foto do autor.

Escrito a partir de um sonho horrível na madrugada de 20 de outubro de 2018. Trabalhado entre os dias 22 e 25 seguintes.

Comentários

Postagens mais visitadas