SETENTA ANOS SEM-COM CAIO FERNANDO ABREU



Resenha dos artigos “A literatura como vingança e redenção”, de Italo Moriconi; “O homem do imediato”, de Alexandre Vidal Porto; e “Hoje não é dia de rock”, de Heloisa Buarque de Holanda. Todos do livro Contos Completos, de Caio Fernando de Abreu. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Páginas 744-756.

Caio Fernando Abreu produced many short stories feeling that the short stories must be brief as the human life, it was disturbing and continuous. But, neither the lector nor the short stories must be passive in front of society’s misogyny, homophobia, racism, retrograde and fascism. There be revolutionaries and anarchists; going from survive to living. It is all that a substantial life.


Em português:

De acordo com Porto (p. 759) e Moriconi (p. 746), Caio Fernando Abreu (doravante: CFA) apresenta em seus contos a vida conforme ele a percebia (existência angustiante) e de acordo com seu modo transgressor e subversivo de viver; isso é comprovado ao ler as obras de CFA. E como os/as personagens de papel e tinta são espelhos dos/das personagens de carne e sangue, leitor e personagens trocam suas solidões; resultado (com um pouco de ‘resultando’ em) de uma intimidade.
Moriconi (p. 744) e Hollanda (p. 754) compartilham o conceito que, consoante a outros autores e artistas, os contos de CFA combatiam a opressão política, social e comportamental da ditadura militar. O que os tornam contemporâneo, já que grande parcela da população atual almeja acabar com os direitos individuais ao apoiar políticos e religiosos [estes melhor representados no Brasil por Bolsonaro (pai e filhos) e por Silas Malafáia] destiladores de ódio e ignorância.
Estes dois articulistas continuam a esclarecer: as obras de CFA são contraculturais; unindo muito bem a vanguarda estética e existencial, a cultura de entretenimento e a erudição literária. Seus textos foram criados para serem politicamente revolucionários e anárquicos; tropicalistas. E não da maneira alternativa e pacífica dos hippies.
Contracultura => (contra+cultura) é Movimento que contesta os valores culturais vigentes. [AMIGO MOUSE SOFTWARE. DIC Michaelis Escolar. Versão 3.0. Editora Melhoramentos Ltda. 2008].
Tropicalismo (Tropicália) => Procurava universalizar a linguagem da música popular brasileira, unindo a cultura jovem mundial (rock, psicodelia, guitarra elétrica) ao que era produzido pela vanguarda erudita do Brasil. [OLIVEIRA, Ana de. Movimento. Disponível http://tropicalia.com.br/identifisignificados/movimento . Acesso 14 Set 2018].
A principal hipótese de CFA escrever muitas narrativas curtas é porque sendo curta a vida humana, porém com muitos “momentos” e cheia de sucessões (cotidiana), o conto permite diversificar “assuntos, personagens e visões do que precisava e que desejava tratar” (Porto, p. 749). Essa diversidade promove questionamentos tais como a escrita dá forma a vida ou projeta de modo intensificado a natureza do autor? (Moriconi, p. 744).
A obra de CFA sugere que partindo da própria vida, do que aprende, apreende e sente é possível expressar-se poeticamente. É o que Hollanda (p. 755 ao citar um trecho de “Os Companheiros”, de Caio) e principalmente Moriconi (p. 746) nos explicam sobre o processo criativo do autor analisado. E ambos dizem mais ao falarem: a vida não tem muito valor se não tiver conteúdo para ser expressa literariamente.
É imaginável que o leitor da presente resenha tenha se chocado com a afirmação da última frase do parágrafo acima. Permita-me então um breve esclarecimento. Tal conceito se justifica se uma pessoa nada produziu, não deixou vestígios. Isso não se refere a capitalismo ou mercantilismo e nem a “obras póstumas” (sejam literárias, empresariais, científicas etc.) e sim se afetou de algum modo àqueles que lhe ilham.
Dentre os muitos temas de CFA, o forte do tópico homoerótico presente em muitos de seus contos não é ser picante, e alguns o são. O foco real é a violência no machismo brasileiro que sente necessidade de submeter, de “transformar” o adversário em fêmea; ou, como no conto “Sargento Garcia”, fazer o mais jovem (mesmo que mais inteligente, portanto, de certa forma, superior) se submeter sexualmente, sem pensar em prazer que não seja o próprio. “Quis gritar, mas as duas mãos se fecharam sobre minha boca. Ele empurrou, gemendo. [...] Mordeu minha nuca. Com um movimento brusco do corpo, procurei jogá-lo para fora de mim. [...] - Seu puto – ele gemeu. – Veadinho sujo. Bichinha louca.” (Abreu, 2018, p. 373-374). Moriconi, na página 747, explana que isso advém da “conexão sexo-poder” de nossa sociedade conservadoramente machista.
O discurso nos contos de CFA é porta voz do leitor, pois, afirma Porto na página 751: “fala por mim e para mim. Ele fala de mim”. E diz ainda, na página anterior, o quão corajosa necessita ser a pessoa para ler a escrita de Caio. Já que é necessário viver e não somente sobreviver sem conformismo neste mundo inquietante e adverso. E ele fala sobre a sociedade e a psique humana sem se preocupar em explicar e menos ainda justificar a vida – esclarece Hollanda na página 754 –, pois esta é contínua e nada exata. A mim parecendo uma estrada deserta, esburacada, com o sol se pondo às costas e a lua nascendo à frente.
Em suma, Caio Fernando Abreu produziu muitos contos por sentir que as histórias devem ser breves como a vida humana, e como tal inquietante e contínua. Mas nem o leitor nem os contos devem ser passivos diante da sociedade misógina, homofóbica, racista, retrógrada e fascista. Hão de ser revolucionários e anarquistas; indo de sobrevivente a vivente. É tudo isso que torna substanciosa uma vida.




En español:

SETENTA AÑOS SIN-CON CAIO FERNANDO ABREU

De acuerdo con Porto (p. 759) y Moriconi (p. 746) Caio Fernando Abreu (de ahora en adelante: CFA) presenta en sus cuentos la vida conforme él la percibía (existencia angustiante) y de acuerdo con su modo transgresor y subversivo de vivir; eso es comprobado al leer las obras de CFA. Y como los personajes de papel y tinta son espejos de los personajes de carne y sangre, lector y personajes cambian sus soledades; resultado (con un poco de ‘resultando’ en) de una intimidad.
Moriconi (p. 744) y Hollanda (p. 754) comparten el concepto de que, consonante a otros autores y artistas, los cuentos de CFA combatían la opresión política, social y comportamental de la dictadura militar. Y esa lucha hace contemporánea la escrita de Caio, ya que gran parcela del pueblo actual anhela acabar con los derechos individuales al apoyar políticos y religiosos destiladores de odio e ignorancia.
Estos dos articulistas continúan a esclarecer: las obras de CFA son contraculturales; uniendo mucho bien la vanguardia estética y existencial, la cultura de entretenimiento y la erudición literaria. Sus textos fueron creados para ser políticamente revolucionarios y anárquicos; tropicalistas. Y no de manera alternativa y pacífica de los hippies.
Contracultura => (contra+cultura) es movimiento que cuestiona los valores culturales vigentes. [AMIGO MOUSE SOFTWARTE. DIC. Michaelis Escolar. Versión 3.0. Editora Melhoramentos Ltda. 2008]. Traducción libre.
Tropicalismo (Tropicalia) => Procuraba universalizar la lenguaje de la música popular brasileña, uniendo la cultura joven mundial (rock, psicodelia, guitarra eléctrica) al que era producido por la vanguardia erudita de Brasil. [OLIVEIRA, Ana de. Movimento. Disponible http://tropicalia.com.br/identifisignificados/movimento . Acceso 14 Sept 2018;]. Traducción libre.
La principal hipótesis de CFA al escribir muchas narrativas cortas es porque siendo corta la vida humana, pero con muchos “momentos” llena de succiones (cotidiana), el cuento permite diversificar “asuntos, personajes visiones que precisaba y que deseaba tratar” (Porto, p. 749 – traducción libre del autor de la reseña). Esa diversidad promueve cuestionamientos tales como ¿la escrita da forma a la vida o proyecta de modo intensificado la naturaleza del autor? (Moriconi, p. 744).
La obra de CFA sugiere que partiendo de la propia vida, del que aprende, aprehende y siente es posible expresarse poéticamente. Es lo que Hollanda (p. 755 al citar una parte del cuento “Os Companheiros”, de Caio) y principalmente Moriconi (p. 746) nos explican sobre el proceso creativo del autor analizado. Y ambos dicen más al hablar: la vida no tiene mucho valor si no tuviera contenido para ser expresa literariamente.
Es imaginable que el lector de la presente reseña y que conozca CFA pueda sentirse incomodado con la afirmación de la última frase del párrafo arriba. Me permita entonces un breve esclarecimiento. Tal concepto se justifica si una persona nada ha producido y no ha dejado vestigios. Eso no se refiere a capitalismo o mercantilismo y ni a “obras póstumas” (sean literarias, empresariales, científicas u otras más) y sí se afectó de una manera u otra aquellos que les aíslan.
De entre los muchos temas de CFA, el fuerte del tópico homoerótico presente en muchos de sus cuentos no es ser picante, y unos lo son. El foco real es la violencia en el machismo brasileño – el mismo, creo, en toda América Española – que siente necesidad de someter, de “cambiar” al adversario en hembra; o, como en el cuento “Sargento Garcia”, hacer al más joven (mismo que más inteligente, por lo tanto, de cierta forma, superior) someterse sexualmente, sin pensar en placer que no sea el propio. “Quiso gritar, pero las dos manos se cerraron sobre mi boca. Él empujó gimiendo. […] Mordió mi nuca. Con un movimiento bruto de cuerpo, intenté quitarlo de encima de mí. […] - ¡Perra! – él gimió. – Maricón sucio. Puta loca.” (ABREU, 2018, p. 373-374 – Traducción libre del autor de esta reseña). Moriconi, en la página 747, explica que eso adviene de la “conexión sexo-poder” de nuestra sociedad conservadoramente machista.
El discurso en los cuentos de CFA es portavoz del lector, pues, declara Porto en la página 751 (traducción libre): “habla por mí y para mí. Él habla de mí”. Y dijo aún, en la página anterior, tan corajosa necesita ser la persona para leer la escrita de Caio. Ya que es necesario vivir y no solamente sobrevivir sin conformismo en este mundo inquietante y adverso. Y habla sobre la sociedad y la psiquis humana sin preocuparse en explicar y aún menos justificar la vida – esclarece Hollanda en la página 754 –, pues esta es continua y nada exacta. A mí parece una ruta desierta, agujereada, con el sol a las espaldas y la luna naciendo en frente.
En suma, Caio Fernando Abreu produjo muchos cuentos por sentir que las historias deben ser breves como la vida humana, y como tal inquietante y continua. Pero ni el lector ni los cuentos deben ser pasivos delante la sociedad misógina, homofóbica, racista, retrógrada y fascista. Han de ser revolucionarios y anarquistas; yendo de sobreviviente a viviente. Es todo eso que deja substanciosa una vida.


ABREU, Caio Fernando. Sargento Garcia. Contos Completos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Revisión en español e inglés: Julian Cabral.
 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Caio – foto do autor para este artigo.
Autor – foto de Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 12 e 27 de setembro de 2018.

Comentários