QUANTO MAIS PALAVRAS MENOS CÉREBRO



- Seria possível falar sem cérebro?
- Justamente as pessoas que mais falam são as com “menos” cérebro.

Em português:
  


Esta manhã da primeira quinta-feira da segunda quinzena de setembro de 2018 está nublada.
A médica que me atendera dois meses atrás receitou remédio para dormir e outro, pela manhã, para animar-me.
Cinco ou seis horas depois do medicamento noturno, desperto. E hoje, apesar de longe do calor, a manhã não chega a ser fria. Sem vontade de ficar em casa faço Benito sair. Sem rumo, só para vermos as nuvens e o sol brincando de esconde-esconde. Saí só para ficar só.
Em uma pracinha de um bairro próximo, Benito senta, olha o céu, admira as flores das árvores, pega um livro e lê:
En el mundo de los libros de lectura, el pobre es un fenómeno natural como la lluvia o el viento. Existe por sí, como los castores y los pingüinos. Es una raza. No tiene orígenes, no tiene causas. No…¹
- Ah! Oi, Benito! Estava mesmo querendo te encontrar para conversar sobre o que você andou dizendo sobre o jogo Galo e Cruzeiro domingo passado.
- Uai, Agabê! Conversemos então.
- Li que ocê publicou na página do Galo Doido TV, no Caralivro, uma nota se dizendo oficial de repúdio à torcida do Galo.
- Não. O que postei foi uma nota oficial de repúdio às manifestações homofóbicas da torcida do Atlético Mineiro no jogo do dia 16 de setembro. Nota emitida pela Aliança Nacional LGBTI+, pela Coordenação Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ (MG) e pela OAB de Paraíba.
- Pois é. Aí fiquei me perguntando onde você estava quando a torcida do time rival fazia e faz “piadinhas” da sexualidade do jogador Richarlyson? Onde estava a tal comissão? Onde estava o político oportunista? Vocês são uns lixos, hipócritas e oportunistas.
- Eu estava denunciando o ódio, a ignorância e o preconceito. E também combatendo como estou agora. Não só pelo Caralivro, mas nas ruas e através de minhas profissões. Não me calo. Penso e ajo.
- Até parece...
- Posso te dar algumas provas de minhas ações, caso queira.
- Adoraria.
- Agabê, precisamente sobre preconceito no futebol teria que procurar muito, pois produzo muitas obras literárias. Pode ser em outras áreas também? Tenho uma lista imensa. E estou fazendo uma pós-graduação em História e meu TCC é sobre a História da Arte no Vale do Aço. Para ela pesquisei cientificamente e entreviste artistas se há “arte feminina”, se existe “arte negra”, se tem “arte homossexual” e outras. Como o artigo científico não está encerrado este ficarei te devendo. Mas sobre textos literários posso apontar alguns. Deixa me ver...
- “Don Perro de la Mancha e Edgar Allan Cat”, “Homens e Jacarés”, “Amaro Boçal”, “Se o Tijolo Falasse”. Estes no blog literário aRTISTA aRTEIRO. Entre outros no blog Ad-Substantiam me lembro do “São as causas perdidas que amolecem pedras”.
- Benito, vamos ser mais diretos, prometo que vou ler esses textos quando chegar em casa. Porém gostaria de saber qual a SUA atitude no caso de ofensas sofridas pelo jogador que até então foi atleta do Clube Atlético Mineiro...
- GAAAAALOOO. – Diz Benito com afeto.
- Gaalo! – Agabê repete. – Mas qual é a SUA atitude nesse caso? Do Richarlyson Barbosa Felisbino, mais conhecido como Richarlyson? Vamos, fala! Afinal, segundo suas próprias palavras, “sobre preconceito no futebol teria que procurar muito”. Não, meu amigo, não precisa procurar muito não. Temos um caso aqui mesmo.
- Sr. Agabê, sobre o “procurar muito” falei de textos meus. Acabei de indicar alguns. Sobre o Richardyson em si não me recordo agora se falei algo precisamente sobre ele. Mas se o senhor acreditar que eu não ter falado algo específico referente ao mesmo significar ter-me calado... Não saberia o que te responder, pois minha produção literária contendo minha luta contra homofobia, misoginia, racismo e muito mais é extensa. E não só escrevo. Mas sendo a literatura uma das minhas profissões, escrever, óbvio, significa atuação prática e efetiva. Mas também vou às ruas. E já que moro em Ipatinga, vou a sua Câmara Municipal batalhar pelo bem comum e pelos direitos individuais. Enquanto professor, discuto preconceitos e combato a ignorância em minhas aulas de Português, de Literatura, de Espanhol e outras aulas que dou.
- Não, você não escreve, não ensina, não luta, não defende. Você milita; que é coisa totalmente diferente. Se você se preocupasse mesmo, pregaria IGUALDADE, sim, IGUALDADE. Sobre tudo no esporte. Confesso que acompanho pouco. Até mesmo porque não faço dessa minha luta. Embora respeite as pessoas que lutam. – Ele dá uma pausa para respirar. Enquanto Benito o olha nos olhos eu fico pensando se Agabê pensa... Mas isso é outra história. Rerrê. Bem, ele já respirou e voltou a gritar. – Vamos falar de casos mais emblemáticos. Já que o do Richarlyson Barbosa Felisbino, você e boa parte de quem hoje está fazendo essa barulheira toda fecharam os olhos. Vamos falar de Tifanny Abreu, jogador de vôlei fe-mi-ni-no que hoje joga vôlei fe-mi-ni-no na superliga, o que tem a dizer sobre esse caso? Onde um homem joga contra mulher. E caso me venha com essas... Rarrá! Argumentaçõezinhas que ele seja mulher, posso lhe explicar fisiologicamente a diferença entre homem e mulher. Esse não seria um caso de um homem levar vantagem sobre as mulheres? Ou podemos falar sobre Fallon Fox? – Não tenho a mínima ideia de quem seja e acho que o Benito também não. Depois lhe perguntarei. Mas voltemos aos gritos, rerrê. – Lutador de MMA, que se intitula trans e enfrenta em um esporte que força física faz toda diferença... – Volta a respirar. Benito fica olhando para a cara mais do que vermelha do sujeito e eu fico só observando. – Sabe o motivo de alguns setores ficarem incomodados com a atitude de parte da torcida do Galo? Porque falou o nome de certo candidato, o Mito. Isso deixou aguçados todos esses petralhas com seu sentimentalismo de defesa das minorias. Desenterrou vários ativistas militantes que se dizem atuantes, pensantes, escritores, professores e sei lá mais o quê.
- Agabê, se minhas ações não têm valor para o senhor não há o que discutir. Fico por aqui. Meus textos são meu discurso, são minhas atuações. Igualmente as minhas aulas.
Agabê insiste em seus gritos. Benito guarda o livro, olha as flores e por trás delas as nuvens vestindo o céu, levanta do banco e sai deixando o sujeito pra trás. Agabê começa a segui-lo. Estendo o pé e como ele não me vê imagina onde tropeçara. Rindo vou com Benito.


En español:

CUANTO MÁS PALABRAS MENOS CEREBRO
  


Esta mañana del primer jueves de la segunda quincena de septiembre de 2018 está nublada.
La médica que me atendiera dos meses pasados me recetó medicina para dormir y otro, por mañana, para animarme.
Seis horas después del medicamento nocturno, despierto. Y hoy, a pesar de lejos del calor, la mañana no llega a ser fría. Sin voluntad de quedarme en casa hago a Benito salir. Sin rumbo, solo para ver a las nubes y al sol jugando a las escondidas. Salí sólo para quedarme solo.
El la placita de un barrio próximo, Benito se sienta, mira el cielo, admira las flores de los árboles, agarra un libro y lee:
En el mundo de los libros de lectura, el pobre es un fenómeno natural como la lluvia o el viento. Existe por sí, como los castores y los pingüinos. Es una raza. No tiene orígenes, no tiene causas, no…¹
- ¡Ah! ¡Hola, Benito! Quería hablarte y lo encontré. Quiero charlar sobre lo que dijiste domingo sobre la partida brasileña del Galo y Cruzeiro domingo.
- ¡Oye, Achebé! Platiquemos entonces.
- Leí que publicaste en la pared del Gallo Loco TV, en el Caralibro, una nota diciéndose oficial de repudio a los hinchas del Gallo.
- ¡No! Publiqué una nota oficial de repudio a las manifestaciones homofóbicas de los fanáticos del Clube Atlético Mineiro en la partida del día 16 de septiembre. Nota brasileña emitida por la Aliança Nacional LGBTI+, por la Coordenação Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ (Minas Gerais) y por el Orden de los Abogados de Brasil del Estado de Paraíba.
- Entonces. Ahí me pregunté ¿dónde estabas cuando los fanáticos del equipo rival hacía y hace “bromas” sobre la sexualidad del jugador Richarlyson? ¿Dónde estaba tal comisión? ¿Dónde estaba el político oportunista? Son todos unas basuras, hipócritas y oportunistas.
- Yo estaba denunciando el odio, la ignorancia y el prejuicio. Y también combatiendo como estoy ahora. No solo por el Caralibro, pero en las calles y a través de mis trabajos. No me callo. Pienso y actúo.
- No lo creo.
- Puedo darle unas pruebas de mis acciones, si lo quieres.
- ¡Quiero!
- Achebé, precisamente sobre el prejuicio en el fútbol tendría que procurar mucho, pues produzco muchas obras literarias. ¿Puede ser en otras áreas también? Tengo una inmensa lista. Y estoy haciendo un posgrado en Historia y mi artículo científico es sobre la Historia del Arte en la región que vivimos. Así investigué y entrevisté artistas si hay “arte femenina”, si existe “arte indígena”, si hay “arte homosexual” y otras. Como el artículo aún no está listo me quedaré en deuda contigo. Sin embargo, sobre textos literarios puedo apuntarte unos. Veamos…
- “Don Perro de la Mancha y Edgar Allan Cat”, “Hombres y Caimanes”, “Amaro Bozal”, “Si el Ladrillo Hablase”. Estos en el blog literario aRTISTA aRTEIRO. Entre otros en el blog Ad-Substantiam me recuerdo del “Son las causas perdidas que ablandan piedras”.
- Benito, seamos más claros. Prometo que voy a leer esos textos cuando vuelva a mi casa. Pero quiero saber cuál es SU acción en el caso de las ofensas sufridas por el jugador que hasta entonces fue un atleta del Clube Atlético Mineiro…
- GAAAAALLOOO. – Habla Benito con afecto.
- Gaallo. – Achebé repite. – Pero ¿cuál es SU acción en ese caso? ¿Del Richarlyson Barbosa Felisbino, más conocido como Richarlyson? ¡Hable! Pues, de acuerdo con sus propias palabras, “sobre prejuicio en el fútbol tendría que procurar mucho”. No, amigo mío, no necesita procurar mucho no. Tenemos un caso aquí mismo.
- Sr. Achebé, sobre el “procurar mucho” hablé de mis textos. Acabé de indicar unos. Sobre el caso Richarlyson en sí no me recuerdo ahora si hablé algo precisamente sobre él. Pero si usted cree que yo no he hablado algo específico referente al mismo significa tenerme callado… No sabría lo que contestarle, pues mi producción literaria conteniendo mi lucha contra homofobia, misoginia, racismo y mucho más es extensa. Y no solo escribo. Sin embargo, siendo la literatura una de mis labores, escribir, obvio, significa acción práctica y efectiva. Pero también me voy a las calles. Y ya que vivo en Ipatinga, voy al ayuntamiento a batallar por el bien común y por los derechos individuales. Y como profesor, discuto prejuicios y combato la ignorancia en mis clases de Español, de Literatura, de Portugués y otras clases que enseño.
- No, tú no escribes, no enseñas, no luchas, no defiendes. Tú militas; que es cosa totalmente distinta. Si te preocuparas mismo, hablarías de IGUALDAD, sin, IGUALDAD. Sobre todo en el deporte. Confieso que acompaño poco esas cosas de homosexuales. Hasta mismo porque no hago de esa mi lucha. Mientras respete las personas que luchan… – Él da una pausa para respirar. Mientras Benito lo mira en los ojos y me quedo pensando se Achebé piensa… Pero eso es otra historia. Jejé. Vale, él ya respiró y volvió a gritar. – Vamos a hablar de casos más emblemáticos. Ya que lo de Richarlyson Barbosa Felisbino, tú y gran parte de quien hoy está haciendo ese alboroto todo cerraron los ojos. Vamos a hablar de Tifanny Abreu, jugadora de vóley fe-me-ni-no que hoy disputa vóley a nivel nacional, ¿qué tienes a decir sobre ese caso? Donde un hombre juega contra mujer. Y si me vieres con esas… Jajá. Argumentacioncitas que él sea mujer, puedo explicarte fisiológicamente las diferencias entre hombre y mujer. ¿Eso no sería un caso de un hombre llevar ventaja sobre las mujeres? ¿O podemos hablar sobre Fallon Fox? – No tengo la mínima idea de quien sea y pienso que Benito también no. Después lo preguntaré. Pero volvemos a los gritos, jejé. – Luchador de MMA, que se intitula “trans” y enfrenta en un deporte que fuerza física hace toda diferencia... – Vuelve a respirar. Benito mira la cara mucho roja del tipo y solo quedo mirándolo. – ¿Sabe el motivo de porqué algunos sectores se quedaron incomodados con la acción de parte del hincha del Gallo? Porqué habló el nombre de cierto candidato a presidente, el Mito. Eso dejó acentuado todos esos ‘izquierdópatas’ con su sentimentalismo de defensa de las minorías. Desenterró varios activistas militantes que se dicen activos, pensantes, escritores, profesores y no sé más qué.
- Sr. Achebé, si mis acciones no lo tienen valor no hay más de qué discutir. Paro por acá. Mis textos son mi discurso, son mis acciones. Igualmente lo son mis clases.
Achebé insiste en sus gritos. Benito guarda el libro, mira las flores y por detrás de ellas las nubes vistiendo el cielo, se levanta del banco y sale dejando atrás el tipo. Achebé empieza a seguirlo. Extiendo mi pie y como él no me ve imagina donde ha tropezado. Riendo me voy con Benito.


¹ BONAZZI, Marisa; ECO, Humberto. Las verdades que mienten. Traduc. Andrés Sikirko. Buenos Aires: Editorial Tiempo Contemporaneo SA: 1974. P. 21.

Revisión en español: Julian Cabral.
 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto (autor trabalhando) do Vinícius Siman.
Fotos das árvores – do autor.

Escrito entre os dias 17 e 20 de setembro de 2018.

Comentários

Postagens mais visitadas