A DESEJADA II
Em português:
- É muito melodrama para quem só quer sombra e água fresca.
Calado olho o meu sobrinho e penso um instante.
Ah! Não quero levantar. O sol está para nascer, mas não quero...
levantar. É... É... Ai... Vou passando o tempo. Tentar dormir outra vez. É... O
tempo passou e não quero levantar, mas o café tem que ser feito.
Levanto.
Vou ao banheiro, faço o que tenho que fazer. Unf.
Ponho água para ferver. Enquanto a água ferve, lavo a pia, lavo as
vasilhas que ainda ficaram na pia.
Ai, meu Deus! Não quero.
Ponho açúcar na água, pó no coador, despejo a água fervente no pó.
Tomo café com leite, saio para comprar pão. Os cachorros vão comigo; como
sempre.
Volto. – arfando – Alimentar-me.
Arrumar a cama. Sacudo as células mortas de meu corpo que ficaram sobre a
cama. Cubro a cama...
Quê isso? Tonto... – arfando –. Labirintite atacando. – arfando – Tenho
que deitar; tenho que deitar...
A respiração... Estou fraco. Mal consigo me mexer.
Meu Deus... Se passaram o quê? Dez, vinte minutos? Meia hora?
Minhas mãos estão formigando. Que isso? Meu coração acelera. A respiração
se dificulta. – Voz anasalada. – A res...pi...pi...ra...ção fi...ca
di...fí...cil; co...ra...ção ma...mais rá...pi...do. Mais rá...pi...do. Res...pi...ra...ção ma...mais di...fí...cil. Co...ra...ção
vai bai...xan...do, mais len...to; ma...is len...to.
Não, não há dor. Nenhu...ma dor. Oh, Deus! Será que estou conse...guindo?
Final... final...mente indo embora? Por isso acho que não sinto dor nenhuma. –
Arfando e voz nasal. – Respi...ração cada... vez mais ba...ru...lhenta.
Não há dor. Não há sofrimento. Cora...ção cada vez mais rápido, cada vez
mais rápido, mais rápido. Respiração cada... vez mais... baru...lhenta. Cada
vez... mais barulhenta... Cora...ção cada vez mais rá...pido. Não há dor. Não
há sofrimento.
A respiração cada vez... mais baru...lhenta; o coração cada vez mais
rá...pido. E eu, satisfeeeito.
Satisfeito. O coração começa a diminuir. Que sono gostoso. Que sensação
mais boa.
- Florbela!
Minha cadelinha está me empurrando, apertando meu peito com uma patinha.
Muito assustada. Não me deixa dormir. Mas o sono é tão agradável. O quero
tanto... Um sono que parece tão duradooouro. Tão longo. Tão... Eterno! Que
delícia.
O coração e a respiração vão se normalizando.
Ainda muito fraco. Muito consciente. Sem nenhuma agonia. Sem nenhum
sofrimento.
O formigamento nas mãos recomeça. Amplia. O coração acelera, acele...ra,
ace...le...ra. A respiração ca...da vez mais difí...cil, difícil, mais
ba...ru...lhenta. Nenhuma agonia, nenhum sofrimento. Cada vez mais difícil
respirar. Cada vez mais barulhenta. Cada vez mais forte a batida do coração.
Batendo, batendo mais forte. A respiração mais difícil, barulhenta.
E vão diminuindo. O barulho, a respiração, o batimento. Tudo maaaais
leeento.
O formigamento, o formigamento. O formigamento nas mãos. Agora nos pés
também. Formigamento quente nos meus quatro membros. Formigamento agora também
na cabeça; formigamento frio.
O coração acelerando, a respiração se dificultando. Mais difícil, mais
barulhento, mais difícil, mais barulhento. O coração mais acelerado, mais
acelerado, mais acelerado...
Ah! Que deliciosa sensação que está ressurgindo. Doce sensação de sono.
De muito sono. Gostoso sono. Ah, coisa mais maravilhosa...
- Florbela... Deixa-me dormir. É um sono tão bom. Para de empurrar meu
peito. Florbela...
O sono se vai.
Sou socorrido. Faire e Julián me acodem enquanto Ramón chama a
ambulância.
Florbela não quer deixar que me tirem de suas vistas. Com um coberto,
para não ser mordido, Julián tira a Florbela.
Vitório, meu outro cachorrinho, vem e ocupa o lugar dela. Não querem me
deixar levar para fora de suas proteções. Parecem pensar “Aonde vai leva-lo.
Não o conheço... Tenho que cuidar dele.”. Com o mesmo cobertor, Julián leva
Vitório para outro lugar.
Agora é o Federico. O Federico não quer deixar-me levar para onde não
entendem.
Os cachorros querem me proteger. Não sabem para onde vou. O que me
acontecerá. Mas eu quero dormir. Contudo, tenho que ficar. Não, não quero! Mas
tenho que ficar.
Vou ao UPA. Faire me acompanha.
Lá me recupero. Fazer o quê?
Em casa, tentando continuar meus deveres, ouço:
- Você só não quer mais cumprir suas obrigações e por isso os empurra aos
outros.
Não falo nada.
Mas penso: Quando alguém quer acreditar em algo, nada mudará suas
crenças. Nem os fatos, nem a verdade.
Da janela de meu quarto olho o céu de madrugada.
En español:
LA DESEADA
- Es mucho melodrama para quien solo
quiere sombra y agua fresca.
Callado miro mi sobrino y pienso un
rato.
- ¡Ay! No quiero levantarme. El sol
está para nacer, pero no quiero… levantar. No… No… Ay… Voy pasando el tiempo.
Intento dormir otra vez. Ay… El tiempo pasó y no me quiero levantar. Pero el
café tiene que ser hecho.
Levanto.
Voy al baño, hago lo que tengo que
hacer. Unf.
Pongo agua para hervir. Mientras el
agua hierve, lavo la pila, lavo las ollas que todavía se quedaron en el
lavaplatos.
¡Ay, Dios! No quiero.
Pongo azúcar en el agua, polvo en el
colador, despejo el agua herviente en el polvo.
Bebo café con leche, salgo para
comprar pan. Los perros me acompañan; como siempre.
Volvo. Ay. Me alimento.
Arreglo la cama. Sacudo las células
muertas de mi cuerpo que allá se quedaron. Cubro la cama…
¿Qué eso? Mareado… – Arfando –.
Laberintitos atacándome. – Arfando. – Tengo que acostarme, tengo que acostarme…
La respiración… Estoy débil. Mal
puedo moverme.
Dios mío…. ¿Se pasó cuánto tiempo?
¿Diez, veinte minutos? ¿Media hora?
Mis manos están hormigueando. ¿Qué
ocurre? Mi corazón acelera. La respiración se dificulta. – Voz nasal. – La
res…pi…pi…ra…ción es…tá más di…fí…cil; co…ra…zón… má…más rá…pi…do. Más
rá…pi…do. Res…pi…ra…ci…ón más di…fí…cil. Co…ra…zón se va ba…jan…do, más
des…pa…cio, más des…pa…cio.
No, no hay dolor. Nin…gún do…lor.
¡Oh, Dios! ¿Será posi…ble que estoy con…siguien…do? ¿Final… final…mente haré el
gran viaje? Por eso, creo, no siento ningún dolor. – Arfando y voz nasal. –
Respi…ración cada… vez más ba…ru…llenta.
No hay dolor. No hay sufrimiento.
Cora…zón cada vez más rápido, cada vez más rápido, más rápido. Respiración
cada… vez más… baru…lenta. Cada vez… más barullenta. Cora…zón cada vez más
rá…pido. No hay dolor. No hay sufrimiento.
La respiración cada vez… más
baru…llenta; el corazón cada vez más rá…pido. Y yo, satisfeeecho.
Satisfecho. El corazón comienza a
disminuir. Que sueño más rico. Sensación más buena.
- ¡Florbela!
Mi perrita está me empujando,
apretando mi pecho con una patita. Muy asombrada. No me deja dormir. Pero, el
sueño es tan exquisito. Lo quiero tanto… Un sueño que parece tan perduraaable.
Tan largo. Tan… ¡Eterno! Qué rico.
El corazón y la respiración se van
normalizando.
Todavía muy débil. Muy consciente.
Sin ninguna agonía. Sin ningún sufrimiento.
El hormigueando en las manos
recomienza. Amplia. El corazón acelera, acele…ra, ace…le…ra. La respiración ca…da
vez más difí…cil, difícil, más ba…ru…llenta. Ninguna agonía, ningún
sufrimiento. Cada vez más rara la respiración. Cada vez más barullenta. Cada
vez más fuerte las latidas del corazón. Latiendo, latiendo más fuerte. La
respiración más rara, más difícil, más barullenta.
Y se van decreciendo. El barullo, la
respiración, las latidas. Todo máááás despaaaacio.
El hormiguear, el hormiguear. El
hormiguear en las manos. Ahora en los pies también. Hormiguear caliente en los
cuatro miembros. Hormiguear ahora también en la cabeza; hormiguear frio en la
cabeza.
El corazón apresurado, la respiración
dificultosa. Más difícil, más barullenta, más difícil, más ruidosa. El corazón
más acelerado, más apresurado…
¡Caray! Qué rica sensación que está
resurgiendo. Dulce sensación de sueño. De mucho sueño. Exquisito sueño. Ah,
cosa más increíble…
- Florbela… Déjame dormir. Es un
sueño tan bueno. Para de empujar mi pecho. Florbela…
El sueño se va.
Soy socorrido. Faire y Julián me acuden
mientras Ramón llama la ambulancia.
Florbela no quiere dejar que me
quiten de sus vistas. Con un cobertor, para no ser mordido, Julián la saca.
Vitório, mi otro perrito, viene y
ocupa la posición de ella. No quieren dejar llevar para fuera de sus
protecciones. Parecen pensar “¿Adónde va a llevarlo? No lo conozco… Tengo que
cuidarle.”. Con lo mismo cobertor, Julián lleva Vitório a otra pieza.
Ahora es el Federico. El Federico no
quiere dejarme llevar para donde no comprenden.
Los perros quieren protegerme. No
saben para donde voy. Qué me acontecerá. Pero quiero dormir. Sin embargo, tengo
que quedarme. No, ¡no quiero! Pero tengo que quedarme.
Voy al hospital. Faire me acompaña.
Allá me recupero. ¿Qué hacer?
En casa, intentando continuar mis
tareas, oigo:
- Usted solamente no quiere más
cumplir sus obligaciones y por eso los empurra a los demás.
No hablo nada.
Solo pienso: Cuando uno quiere creer
en algo, nada cambiará sus creencias. Ni los hechos, ni la verdad.
Por la ventana de mi pieza miro el
cielo por la madrugada.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad
Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor
de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É
pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação
Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e
Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da
Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de
Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Imagens:
Céu na Madrugada (Cielo en la Madrugada) – foto do autor.
Foto do autor, por Vinícius Siman.
Experiência do dia
03. Gravação de áudio no dia 06; transcrição no dia 07; trabalhado nos dias 08
e 09. Tudo em agosto de 2018.
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