FOI LOUCURA OU ACONTECEU?
¿FUE LOCURA O SI OCURRIÓ?
O tempo trincou o gato, fez cair as asas do vidro. Os
cacos se arrastando, besouros inofensivos no chão. As vespas enovelaram tudo
para as unhas do pai desfiar. Eles não sabem destas coisas. Têm os olhos vesgos
de realidades muito, muito imediatas. Loucura é não acreditar nos próprios fantasmas.
E então me reconstituo e crio novamente meus
personagens que me assombram assim, tenho com o que me preocupar além vida... E
digo que conheço meu pai, e sei que o gato me olha e em mim não atribui
carinho...
E as vespas? Nem as comento mais...
E o pai, o gato e as vespas?
E eu, o pai, o gato e as vespas?
E eu, você, o pai, o gato e as vespas?
E eles que me olham, eu, você, o pai, o gato e as
vespas?
Num sobressalto acordo desesperado.
Os olhos que me olham não são dois...
Os olhos que me olham são de meu pai e o gato em seu
colo...
E as vespas? Nem as comento mais...
Leticia
Duns – leticia.ads@hotm
Em português:
Meu pai morreu. Todos sabem disso. Fomos ao velório e
o enterramos a quase 19 anos atrás. Então como minha mãe, meus irmãos e nossos
conhecidos não estranham ele está conosco? Como as pessoas agem como se ele
estivesse com a gente esse tempo todo? Dizem que um louco não admite a hipótese
de estar louco. Será que estou? Um louco manso... Que aceita tal ideia?
E as outras coisas?
O gato que me odeia. Me ataca quando passo por ele.
Procura-me e me persegue. Numa inteligência humana. Uns olhos vermelhos. Uns miados
roucos, de garganta não usada e dentro de uma caixa... São assim os miados. São
assim.
E as vespas? Colmeia... Vespa faz colmeia ou é outro
nome? Bem! Os ninhos marrons avermelhados, disformes como se fosse obra
cubista, fora de casa logo acima da janela da sala e quase do meu tamanho.
Ferrão duas vezes maior que elas. Por que ninguém estranha?
Falei do papai e olharam-me como se eu dissesse
bobagem. Quando falo, eles nem me ouvem. Viram a cara para o outro lado e
continuam o que faziam. Qualquer outra coisa que não seja papai, o gato e as
vespas eles me respondem, conversam comigo.
Será que estou louco? Mas então porque eles agem como
se eu fosse normal quando falo de outros assuntos? Será assim que agimos com os
doidos quando falam o que consideramos certos?
Estou no quarto. Porta trancada, janela fechada e o
sol entrando por ela enquanto escrevo “a quem possa interessar”. Uma vespa,
duas, na janela. O gato na gameleira. Cinco, sete, dez vespas na janela. O gato
mia no galho da gameleira – árvore que dizem ser do diabo –. Quase metade da
janela com vespas. Seus ferrões no vidro. Quíqui. Quíqui. Quíqui. O quarto
escurecendo. O gato mia no galho quase encostado à minha janela com mais da
metade coberta de vespas. Quíqui. Quíqui. Quíqui. Acendo a lâmpada. O gato olha
para mim nos poucos centímetros ainda não cobertos do vidro. Quíqui. Quíqui.
Miado. Quíqui. Tásqui. A luz se apaga. Paro de escrever. Não aguento; não tenho
como. Miado. Quíqui. Tásqui. Outro rachado no vidro. Batida na porta. “Filho!”
Miado. O vidro se quebra. Papai arromba a porta.
Agora são só meus pensamentos gravados na parede do
quarto. Só meu pavor no ar da casa. Ninguém se lembra de mim.
En español:
Mi
papá si murió. Todos lo saben. Fuimos al velorio y lo enterramos a casi
diecinueve años pasados. Sin embargo, ¿cómo mi mamá, mis hermanos y nuestros
conocidos no perciben que es raro él está con nosotros? ¿Cómo las personas
actúan como se él estuviese con nosotros todo ese tiempo? Hay quien diga que un
loco no admite la hipótesis de estar loco. Pero, ¿será que estoy? Un loco
manso… ¿Qué acepta tal idea?
¿Y
las otras cosas?
El
gato que me odia; me ataca cuando nuestros caminos se cruzan en la casa. Me
procura y me persigue. Tiene una inteligencia humana. Ojos rojos, maullido roco
como se su garganta no fuera usada y estuviese encerrada en una caja… Son así
sus maullidos. Son así.
¿Y
las avispas? Colmena… ¿Avispa haz colmena o es otro nombre? No importa. Sus
nidos son marrones con un poco de rojo, disformes como se fuera obra cubista;
fuera de casa logo arriba de la ventana de la sala y casi de mi largura.
Aguijón dos veces más grandes que ellas. ¿Por qué nadie las ve raras?
Hablé
del papá y me miraron como si yo fuera un chiflado. Mientras platico ellos no
escuchan; miran la pared o continúan sus tareas. Cualquiera otra cosa que no
sea papá, el gato y las avispas me contestan, charlan conmigo.
¿Será
que estoy loco? Pero, ¿entonces porque actúan como yo fuera normal cuando
platico otros asuntos? ¿Será así que actuamos con los dementes mientras hablan
las cosas que aceptamos como normales?
Estoy
en mi habitación. Puerta atrancada, ventana cerrada y el sol entrando por ella
mientras escribo “a quién podrá interesarle”. Una avispa, dos, en la ventana.
El gato en la gameleira – árbol que siempre escuché decir ser obra del diablo
–. Cinco, siete, diez avispas en la ventana. El gato muelle en la rama de la
gameleira. Casi mitad de la ventana con avispas. Sus aguijones en el vidrio.
Quiqui. Quiqui. Quiqui. La habitación se va oscureciendo. El gato muelle muy
cerca de mi ventana con más de la mitad cubierta de avispas. Quiqui. Quiqui.
Quiqui. Enciendo la lámpara. El gato me mira en los pocos centímetros aún no
cubiertos del vidrio. Quiqui. Quiqui. Quiqui. Maullido. Quiqui. Tasqui. La luz
se apaga. No aguanto más escribir; no tengo como. Maullido. Quiqui. Tasqui.
Otra fisura en el vidrio. Golpes en la puerta. “¡Hijo!” Maullido. El vidrio se
rompe. Papá abre la puerta a la fuerza.
Ahora
son solo mis pensamientos grabado en la pared de la habitación. Solamente mi
pavor en aire de la casa. Nadie se recuerda de mí.
Daniel Cristino e
Maura Gerbi. Que a dupla “prefeitável” Vá e Vença!
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad
Substantiam ocasionalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor
de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É
pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na
Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e
Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da
Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de
Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Foto do Vinícius Siman.
Escrito em português às sete da manhã e trabalhado às três
da tarde do dia 21 de agosto de 2010; porém foi reescrito nas duas línguas em
08 e 09 de maio de 2018. Primeira publicação (só em português): http://artedoartista.blogspot.com.br/2010/08/meu-pai-o-gato-e-as-vespas.html
Comentários
Postar um comentário