O que o BBB e o STF têm em comum?

Quando leio uma notícia, normalmente, abro a guia de comentários, seja nas redes sociais ou no site do veículo, e sempre dedico alguns minutos a mais para leitura das opiniões e para buscar compreender o que pensa ou não pensa a maioria dos brasileiros com voz na internet, a qual, convenhamos, é hoje representativa das várias classes sociais, estados da federação e opiniões (paixões) políticas. Tenho para mim que é sempre uma leitura produtiva. É o Brasil estampado, principalmente o pior dele, o ódio. 
Esta semana duas notícias me foram gritantes e me levaram a escrever essa coluna hoje. Concluí que o povo brasileiro não entendem nem o BBB nem o STF e eles possui mais em comum do que se pode prever. São dois focos das cantilenas irracionais, dos corações partidos e do ódio gratuito e claro, da incompreensão das regras do jogo. 
Antes, vou elucidar quais foram as notícias que me trouxeram a este momento. A primeira foi a vitória da acriana Gleici no BBB e a segunda uma reportagem que apesar de está percentualmente atrás do deputado Jair Bolsonaro, Joaquim Barbosa, meu conterrâneo, o venceria no segundo turno, segundo pesquisa do Datapoder360, em cenários sem o presidente Lula, que sendo franco, não estará nas eleições (isso é claro como o raiar do dia e o arrebol na praia - não temos mais tempo para ilusões do tipo). 
No caso da Gleici, uma militante dos direitos humanos, surgiu uma foto sua e ela foi parabenizada pela conta oficial do presidente Lula. Já sabemos qual é o tipo de comentário esperado. Foi massivo. Críticas infindáveis. Pessoas que votaram nela dizendo que se arrependiam, que se soubesse que ela era de esquerda o resultado seria diferente. As querelas rotineiras da intolerância. Alguns comentários mostravam mais, a incapacidade de leitura simples e interpretação. Estamos entre analfabetos. Muitos comentários insinuando que o presidente tinha em sua cela um celular e que era um absurdo ter parabenizado a acriana, mesmo na presença da hashtag: #equipeLula. 
Vi neste caso que estamos em uma estrada sem possibilidade de retorno. A intolerância é cada vez mais cega e burra. Não conseguem separar oposições políticas da vida comum. Em tudo é preciso direita e esquerda. Independente da ideia, da resolução e do evento, coisas da esquerda são coisas do demônio. É preciso, segundo eles, acabar com toda a esquerda. Não possuem as capacidades do franco debate político e da lealdade democrática. Primeiro se bate, depois se descobre pelo quê ou a razão. É um Brasil medonho e sangrento esse, caros leitores. Um confronto de massas de manobra. E, para dor de muitos, a esquerda brasileira tem sua responsabilidade. Ela não foi capaz de esclarecer e trazer para o cenário político muitos de seus hoje filhos e seguidores. 
Agora vamos ao Joaquim Barbosa. Antes de mais nada, devo me declarar um pouco suspeito para qualquer análise, visto que não nutro nenhuma simpatia pelo presidenciável, visto nele visualizo uma incapacidade de articulação política e acreditar que ele possui análises draconianas e inaplicáveis, como fez no voto pela aplicação imediata da legislação da ficha limpa já no processo eleitoral que se sucedia, desrespeitando a limitação e prazos constitucionais. Outrossim me são gritantes a inabilidade do mesmo para o campo democrático, demonstrada pela execração pública de jornalistas e a má convivência com os operadores do direito, além da presidência cheia de atritos no Supremo Tribunal Federal. Não posso, todavia, negar a vida ilibada e exemplar do magistrado aposentando. Há sombras, concordo, mas até que se prove o contrário, existe nele integridade. 
Abstendo-me de uma análise mais profunda do presidenciável, o que será feito caso ele se confirme candidato, volto ao fato inicial: as pessoas não compreendem o STF. Temos no Brasil uma onda de ódio que é obstante para todo e qualquer conhecimento. O mais gritante que vi esta semana é que não sabem mais o que é separação dos poderes, funções do judiciário e que o MPF constitui um órgão autônomo. Surgiu, mediante a notícia, uma onda de comentários e ataques ao Joaquim Barbosa com o seguinte dizer: "não confio nesse senhor, ele não investigou o nove dedos no mensalão" (sic). 
Críticas são sempre bem-vindas e devem ser feitas contra os entes públicas, faz parte do processo democrático. Mas mesmo aos que não tenho afeição, não concordarei jamais com aquelas oriundas da desonestidade intelectual, da ignorância e do mau-caráter. É claro que a integra do comentário em si já mostra ter vindo do ódio e este é irracional. Eu vi, entretanto, outro lado. As pessoas não compreendem as bases da república. Como nossa educação é falha. É uma confusão de legislativo com judiciário, de executivo com legislativo,  de judiciário com MPF et caterva. Claro, que o STF contribui para isso, com a invasão de competências (como quando o Ministro Barroso, que derramou elogios aos militares nesta semana, fez ao criar um novo texto para indulto baseado em, deuses brasileiros, sei lá que princípios). Essa confusão tem, é importante ressaltar, um papel fundamental no ódio a democracia atual. Por não se saber de quem cobrar, de quem são as competências e quais as funções todos políticos, funcionários públicos e ministros se tornam iguais. Só há preocupação com a balbúrdia que existirá na sessão ordinária da quarta-feira e a extraordinária de toda semana da quinta-feira. Isso animará os amores e os bares  na sexta-feita. Não importam votos e a influência de cada decisão na vida comum. Por isso, reafirmo: não se compreende o STF. Nem sei se ainda se compreende alguma coisa com clareza neste país em que políticos sem projetos claros, refiro-me tanto ao deputado Jair Bolsonaro, quanto ao ex-ministro Joaquim Barbosa, estão na frente na pesquisa eleitoral. Claro, no caso do Barbosa lhe há a escusa de ainda não ter se decidido, e ainda possui tempo para isso. Entretanto, não há escusa para ele ser um dos que lideram as estatísticas. Estão comprando um candidato que não conhecem, pois duvido que a passagem, até que não das piores, pelo STF ensinou alguma coisa. 
Volto para uma tecla fundamental, com a educação de ruim a pior, filosofia e sociologia fora da grade curricular comum do ensino médio, não podemos esperar outra coisa a não ser o agravamento das compreensões. Daqui há alguns anos de janeiro a abril nos bateremos pelo BBB e no resto do ano pelo que o Supremo decidiu ou deixou de fazer. Triste fim do Brasil. 

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que da mentira." Friedrich Nietzsche 

Fotografia extraída do banco de imagens do STF


Militante de esquerda é autor de 6 livros, sendo 1 traduzido para a língua inglesa (Carnal Desires). 
Escreve normalmente aos sábados. 
josuedasilvabrito1998@gmail.com 

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