O nascimento dos deuses à brasileira
"Esse sujeito fala com Deus?"
Ministro Gilmar Mendes no HC 143.333
Desde
muito tempo ando observando a tendência humana de criar ídolos e sua
necessidade de deuses e deusas (não sou nem de longe o primeiro e nem o último
a me envolver com o tema). A humanidade sempre manteve um panteão fulgente e
bastante povoado. Isto é simples. Uma grande demonstração da fraqueza humana e
da sua dificuldade em obter respostas racionais e métodos lógicos para
solucionar problemas.
Nós,
brasileiros e brasileiras, estamos em uma nova fase da falência e da carência
irracional e primitiva do homem. Nós estamos criando deuses e deusas para
solucionar infortúnios da própria solução humana: a política. Quando os
gregos disseram que éramos animais políticos, erraram. Somos, em síntese e
essência, animais carente de deuses e mitos. Precisamos de soluções mágicas
quando a realidade nos assombra.
As
situações laicas, os Estados separados, tudo isso se torna uma mera formalidade
estoica quando surgem os problemas de uma nação. Dois fatos mostram bastante
essa carência na nossa atualidade, primeiro um excelentíssimo procurador da República
que diz que vai jejuar e orar pelo resultado de um julgamento, mostrando
todo o seu lado passional, e depois um juiz federal que diz que irá
acompanhá-lo. A carência dos deuses mostra a morte da razão. Devo acrescentar,
maiormente, que estes fatos supracitados não é um fenômeno isolado. As
religiões tendem a crescer na atualidade e as igrejas vão assumir um
protagonismo na eleição que é periclitante, fato que o próprio TSE já observou
e já relatou.
Saindo
da discussão das religiões e das ações apaixonadas por entes do Estado, é
preciso observar-se o que essas relações promiscuas de carência estão
produzindo na civilização e na política brasileira. Todo esse fenômeno de
massa está produzindo o deus Moro, o deus Bretas, nas próprias palavras do
Ministro Mendes, e, na minha concepção, o Mito, referência mais que adequada a
Jair Bolsonaro.
Estamos
criando, senhores e senhoras, homens infalíveis, incontestáveis. Moro nunca
errou, não erra e jamais errará, essa é a síntese da maioria das massas.
Se errare humanum est, quem não erra é deus! Onde chegamos como
nação? Chegamos a carência de explicações míticas e deificadas para nossos
problemas. A necessidade de um salvador é, antes de tudo, dramática.
Agora
explico um comentário, o porque a referência mito é utilizada adequadamente
para o deputado federal e presidenciável Jair Messias Bolsonaro. Primeiramente,
o que é mito? Mito é a qualidade do irracional, é uma explicação lendária
e divina que é criada para aquilo que a lógica e a razão humana são falhas. É
fruto de tudo o que não serve a razão. São medos e anseios
abstratos e não objetivos que produzem tais fenômenos. O deputado e
suas falas traduzem esse emocionalismo e a carência de racionalidade. Logo,
Jair Bolsonaro é o Mito!
Temos,
por fim, um mundo perigoso, onde não se fala com deus, os próprios deuses são
antes homens! Lamentável o estado que chegamos. É um forte derrocada da
racionalidade. Mais uma das facetas a serem estudadas da sociedade pós-factual.
Chronos ingerindo seus filhos. Um deus conservando o seu poder. |
Josué da Silva Brito
Autor de 6 livros, é colunista do Ad Substantiam aos
sábados.
josuedasilvabrito1998@gmail.com
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