História de merda





Logo vi que ia dar problema quando vi um ricão suado indo ao banheiro...
Ricão não apenas por ser muito rico, mas também pelo seu corpo arrojado, que ocupava espaço com seus ombros muito largos e pança saliente.
Um desses indo ao banheiro suado... Bem, dava pra ver que a coisa ia feder, literalmente... E pra mim.
Trabalhava neste parque aquático quase que de favor, o gerente era amigo do meu pai e virei “pau pra toda obra” aqui, dava pra tirar uns quinhentos por mês, era pouco, mas dava pra pagar as xerox da faculdade, mas tinha que aparecer uma dessas... Naquele dia estava muito cheio, me mandaram dar uma força aos dois zeladores que cuidavam dos banheiros. A receita de uma tragédia.
Passaram-se uns dois minutos, parece que o gordão só sentou e VLUP, desceu logo foi tudo de uma vez, fiquei feliz por ver que ele tinha terminado rápido, pois poderia fazer logo aquilo e vazar, ficar de boa até aparecer algum outro galho pra quebrar... Comemorei cedo demais.
Entrando no box do banheiro minhas narinas foram intoxicadas por um cheiro amargo, que pesava, parecia entrar por todos os meus poros e impregnar tudo, diante desse desastre não consegui pensar em nada, era como se aquele resíduo abjeto estivesse em toda parte, escorrendo entre as cerâmicas do piso.
Segurei o vômito com os músculos de minha laringe, tapei o nariz e desviei o olhar, em seguida segurei a corda da descarga e puxei, revoltado: COMO ELE PÔDE DEIXAR ISSO AQUI?!
O passado e o futuro me pressionam no presente... Cada micro-segundo é de angústia e de ansiedade... Será que vai descer?
A resposta veio pesada, desoladora! NÃO DESCEU AQUELA PORRA!
Após o tremor causado pela resposta insatisfatória, minha mente se estabilizou, apesar do cheiro, e consegui raciocinar:
- Bem, eu sou só quebra galho, vou chamar o zelador e essa pica não vai ser mais minha.
O zelador, mesmo com dez anos de experiência, só conseguiu exprimir, diante daquele colosso amarronzado, a seguinte fala:
- Vixe, Maria!
Deu também a descarga, com o resultado idêntico ao anterior.
- Minha nossa senhora. – Clamou o zelador diante de sua desgraça.
Para evitar o comprometimento de suas córneas o zelador virou de costas, enfiou o desentupidor na privada e começou a fazer pressão. Mesmo sem contato visual direto com aquele dragão de barro o zelador fechava os olhos com força, como que lamentando cada segundo dos dez anos de trabalho e desejando ser capaz de antecipar os dias até sua aposentadoria... Isso se a reforma da previdência não for aprovada, óbvio.
O que xerox da faculdade não nos obriga a fazer?



SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo três livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com







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