“Amor de mãe“
As
folhas caem das árvores, os pombos voam de uma ponta a outra picando as
fendas entre as pedras em busca de alimento, o sol iluminava a manhã quente, o
que quer dizer, obviamente, que não há nuvens, o céu está limpo.
Ela
anda por esta praça, que fica de frente para uma igreja de portas abertas, mas,
assim como a praça deserta, não há ninguém, assim é para onde quer que se olhe,
todos os mercadinhos estão abertos, mas ninguém atende nos balcões e nenhum
carro ameaça pedestres desavisados nas ruas.
Tudo
está mortalmente silencioso, não há som algum, sequer os pombos fazem qualquer barulho, nem mesmo quando movem as asas, os sinos da igreja, porém, batem e põem
fim ao silêncio, produzindo um barulho metálico muito alto, que a leva a tapar
os ouvidos. Findo o som, ela libera suas orelhas e ainda escuta o eco da
tradição católica.
Por
alguns segundos o véu do silêncio mais uma vez cai sobre a praça ensolarada...
Por
alguns segundos...
Detrás
dela é emitido o som de um choro infantil, vira-se rápido, chocava pelo alcance
do barulho do pranto e surpreende-se ainda mais ao perceber uma criança de
menos de um ano, enrolada em lençóis, a esgoelar-se.
A
mulher pega a criança em seus braços, tira para fora seu seio e o dá ao bebê,
que começa a puxar o leite, parece estar ali há vários dias, mama como se não o
fizesse há muito. A criança derrama um pouco de leite na blusa da mulher, que
tira um pouco o neném e seca o líquido de sua peça, feito isso, coloca mais uma
vez a criança em seu seio, porém, desta feita, sente uma dor aguda e, por
impulso, afasta a boca do infante, que está suja de sangue, ela olha para seu
busto e pingos do líquido vermelho caem de seu mamilo, desespera-se, foca no
bebê e no sangue que escorre de seus lábios, em seu choque, dá três passos para
trás, o bebê sorri com sua boca ensanguentada.
Assustada,
solta o neném, que cai em direção ao chão...
Cobre
o rosto, imediatamente arrependida do que o impulso a levou a fazer,
entretanto, quando olha para o chão, não vê o bebê machucado e, quem sabe,
morto, mas apenas os lençóis nos quais estava enrolado... A criança
desapareceu.
Ainda
com o seio a sangrar, corre desesperada, tudo o que quer é deixar aquele lugar,
atravessa a rua sem trânsito.
Todavia,
quando vira a esquina, depara-se com uma multidão de pessoas que a olham
raivosamente, o sino da igreja, lá atrás, repete o som ferroso emitido momentos
antes.
–
Maternidade é um sentimento importante para a mulher. – Repete a multidão
simultaneamente, dando passos em direção a ela.
Os
gritos da mulher foram ensurdecedores, mas duraram pouco, silenciaram junto do
som do sino.
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo três livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
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