A hipótese de uma artista independente anti-mercado no mercado ou Das peculiaridades da Oferta e Demanda na arte independente em revista
A
tese utilitarista de que o valor do produto é dado pelos custos de produção
tornou-se, desde Karl Marx, ultrapassada, dona de meias verdades, Marx elenca
questões como o fetiche pelo capital, aquele “outro” na materialidade do
produto, basicamente, não se compra apenas o objeto, se compra algo mais,
embutido no material pela propaganda. Em nenhum campo isso é mais verdadeiro do
que no campo da arte. Porém, neste texto falarei da arte independente, onde
temos uma demanda que, na maioria das vezes, não absorve a oferta, pois o
público não é dado a comprar produtos culturais de artistas sem nome de sua
própria região, ou, ao menos, esta é uma tendência perceptível. Assim, uma
contradição entre oferta e demanda surge, temos consumidores desinteressados e
um produto relativamente caro e de qualidade, desta relação o artista espera
tirar o lucro do seu capital investido, talvez o acumulando e fazendo-o voltar
a circular, para isso precisarão, no mínimo, de uma propaganda muito boa e com
o público em geral não se poderá usar o argumento de custo de produção para
justificar um preço não convidativo (Esse argumento tende a funcionar apenas
com outros artistas, que conhecem esta realidade de perto, tal linha
argumentativa pode lhes causar empatia, o que eu chamo de “mendicância
artística”), A explicação do custo de produção pode fazer o público, no máximo,
entender o preço, mas ainda assim não justificará a compra.
É
o que Alfred Marshall chamou de rendimento decrescente, quando se produz e
vende um produto que está para além das condições materiais e/ou interesse do
público, ele pode comprar uma ou duas vezes, mas a tendência geral é que
consumam cada vez menos ou protestem por um preço mais em conta (Tendência no
negócio de mercadorias de primeira necessidade, onde vemos isso ocorrer o tempo
todo), logo, não importa, na prática, o valor da produção, mas sim o interesse
ou condição do público em adquiri-lo.
Há
uma exceção, claro, que é o público formado por artistas da mesma área (Mas nem
sempre), isso, porém, não é muito interessante em minha concepção, pois o
artista deve procurar sair do seu lugar de conforto e levar seu material para
fora de seu mundinho (Mas deve, é verdade, conquistar seu mundinho, pois
esticar demais muito rápido pode tornar o produto esquecível), até como forma
de defesa e fomento da linguagem (O senso comum é o que nos sustenta, ou nos
adequamos a ele ou nos esforçamos em muda-lo).
A
melhor solução para um artista independente em sua região é aceitar que o “demônio
de casa não apronta” e procurar materiais mais baratos, melhorando-os e
aumentando os preços de forma progressiva a medida que angaria um público mais
fiel e mais amplo.
Porém,
nem esse momento é simples, existe uma diferença em conseguir público fiel e
vender muito, é bom que estejam associados, mas, quando não estão, são capazes
de confundir o artista independente que vende seu material debaixo do braço
(Por assim dizer), o público fiel é um grupo de pessoas que sempre compra, sem
que seja formado de pessoas íntimas, o público fiel é um grupo de pessoas que
valoriza o trabalho em sua periodicidade.
Um
sistema simplório semelhante a uma assinatura pode ajudar nisso, caberá ao
grupo ou ao artista planejar e implementar as formas de conhecer o público, mas
enquanto os compradores aleatórios forem maioria, é bom manter os preços baixos
e mais elásticos (Basicamente, podendo ser rebaixados ou aumentados de acordo
com as circunstâncias), pois esse público não valoriza o produto em sua
integridade (Levando em conta suas especificidades, como continuações, novas
edições) e, assim, o nível de expectativa é baixo. Pode-se manter o preço alto
no caso de o público alvo ser apenas outros artistas, mas isso não é muito
interessante, pois, como já foi dito, o formato de revista é essencial para o
fomento, para a propagação “além dos muros”.
Logo,
é bom ser um tanto cauteloso ao definir preços para produtos culturais caso
você seja um artista independente em sua própria região. A produção e o
material mais caro não justificam, necessariamente, o preço na circulação, pois
toda produção pressupõe sujeitos vivos, em movimento, em seu cotidiano, capazes
e interessados ou não em comprar o produto.
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
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