Bolsonaro, o candidato sem plano
Imagens da Web do deputado federal Jair Messias Bolsonaro |
Segunda, dia 20 de novembro de
2017, o presidenciável foi entrevistado pelo Canal Livre, programa da TV Band.
Mais uma vez o deputado se mostra irresoluto com práticas que abjuram os
direitos humanos – conjunto de termos que a extrema direita não absorve muito
bem.
Entre o show de horrores o
deputado não teve planos para economia efetivos, políticas públicas para a
segurança, educação ou qualquer outra área que deveria lhe apetecer. Bolsonaro
é deveras um aventureiro em política que não saiba ainda nem mesmo como construíra
sua base no congresso. Cabe ainda
ressaltar o espetáculo pífio da tentativa de explicar frases, a meu ver ainda
aplicáveis na realidade do candidato, proferidas em um passado não muito
distante.
Como discutir todas as ideias
do líder messiânico demanda energias que deveras não tenho foco minha coluna em
uma sequência de frases do deputado sobre sistema prisional. Não as recordo na
integra, mas seu sentido me é vivido como o sol que se apodera do cimo do céu.
Enumerando-as, o deputado Bolsonaro defendeu que o sistema prisional deve ser
para encarcerar, não ressocializar; que prisioneiros não deveriam ter direitos;
e ainda defende a prática de tortura em caso de existir interesse em
informações de prisioneiros do Estado.
Recapitulando a história, o
sistema prisional de encarceramento se inicia no século XVII. Nesta época a
prática era mais cruel do que a própria morte. Ela se dava pelo abandono do ser
humano que rompeu com o contrato social em cavernas, fossas, torres e
calabouços. No século subsequente, surge o aprisionamento como alternativa para
a pena de morte, como uma sanção disciplinar, na qual a ausência da higiene
também era vista como parte da pene. Foi a partir do século XIX que surgem as
concepções de melhora das condições de vida de prisioneiros e no século XX as
concepções de ressocialização dos homens. 1
Conhecido o histórico fica
fácil afirmar, Bolsonaro está no século
XVII e você, caro apoiador do mito2, também. É um grande atraso
renegar os direitos humanos e reconhecer a dignidade. A prisão não é e não deve
ser apenas punitiva, deve ser uma tentativa bem estruturada de se recuperar o
individuo para o acatamento do contrato social. A ressocialização só se obtém
através do respeito ao individuo e práticas que valorizem suas particularidades
e qualidades. A ressocialização se cria pela construção da consciência.
Dando dados atuais do Ministério
da Justiça, já são 622.202 presidiários no Brasil.3 A própria
realidade se pronuncia contra a verborragia do candidato. Nós já fazemos a
política de encarceramento que ele deseja. Aquela que esquece o preso na cadeia
e ignora que ele é cidadão. Que o pune mesmo antes de um julgamento. Que ignora
os seus direitos humanos. Surpresa: ela não está funcionando. Será que falta ao
candidato visualizar a realidade?
O “oh meu Deus” dessa história
vem quando lemos sobre a situação prisional da Holanda. No país faltam bandidos
e quais são as práticas que levaram a isso? Oh, uso de penas alternativas,
programas de ressocialização e mudar o foco das drogas para o combate ao
tráfico de pessoas e terrorismo.4 A tudo isso o candidato nunca dará o braço a
torcer, é mais fácil bradar “truísmos improfícuos” eleitoreiros, sem encontrar
resolução verdadeira para os problemas brasileiros.
Esperava muito mais do presidenciável.
Esperava clareza nas ideias e que já tivesse políticas claras sobre as áreas de
dominância da política brasileira. Não esperava tanta boçalidade em se esquivar
de perguntas simples e na dificuldade em definir quem é o próprio Jair
Bolsonaro. Ficarei acompanhando todas as entrevistas do deputado. Quiçá um dia
desvende quais são suas propostas para o Brasil. Por ora não passam de palavras
ao vento.
2 O uso de mito é muito
apropriado par ao presidenciável. Afinal, mito era uma narrativa grega
utilizada para explicar aquilo que não era compreendido. Bolsonaro também não é
compreendido pelos seus seguidores, é apenas questão de fé. É uma crença.
Jamais pode ser considerado o ato de se seguir o candidato como expressão das
racionalidades.
3 http://download.uol.com.br/fernandorodrigues/infopen-relat-2016.pdf
4 http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37966875
Escritor, paracatuense, acadêmico de medicina e militante dos direitos humanos. Tem seis livros publicados.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente aos sábados.
Contato: josuedasilvabrito1998@gmail.com
Josué, querido! Muito bom seu artigo. Bom e necessário.
ResponderExcluirConcordo em número, gênero e grau com quase tudo -- apenas sobre uma coisa ainda não formei opinião concordante ou discordante: "...Bolsonaro também não é compreendido pelos seus seguidores, é apenas questão de fé. É uma crença. Jamais pode ser considerado o ato de se seguir o candidato como expressão das racionalidades." -- Será mesmo?
Beijos carinhosos! Isso é algo a discutirmos por telefonema.