Aldravismo, a escola poética minimalista

Refletindo em criar uma escola literária-poética minimalista, me dei conta de que já existe


Há um tempo estava pensando em poesia minimalista. Mais especificamente criar uma escola poética minimalista. E durante o tempo em que pensava isso, fui a Belo Horizonte participar da FliBH. Na viagem de volta, Nena de Castro e eu viemos conversando sobre técnica literária e, de repente, caímos no assunto aldravia. "A aldravia é o esqueleto da poesia convencional", disse-me ela. Catapimba! É isso! Já existe uma escola de poesia minimalista, que até então não tinha visto como tal.
Tive a honra de conhecer no ano passado os poetas que fundaram o movimento aldravista (Gabriel Bicalho, Hebe Rôla, Andreia e J.B. Donadon Leal e inúmeros outros — Goretti de Freitas já conheço há mais tempo). É fascinante o que essas pessoas fizeram e fazem. Poesia minimalista, como já é de se imaginar, é de difícil construção; há de se esculpir o poema, retirar as sobras de carne e banha que há nos ossos e polir o esqueleto pra que, mesmo com o limite de seis versos, não perca a poética.
Bisturis afiados e palavras com precisão cirúrgica nas mãos de cada um dos poetas citados acima, isso faz com que a poesia minimalista seja diferente em vários aspectos e ângulos do que, talvez, eu imaginasse: a aldravia tem, antes de tudo, o aspecto plástico — um quadro de Piet Mondrian ou Brice Marden ou Jo Baer saindo da tela com seus traços reduzidos à essência e habitando o papel e a língua. Outro aspecto importante é o musical — as sinfonias experimentais e experimentalistas de Philip Glass e Arvo Pärt e Steve Reich sibilando na nossa boca quando se lê a forma fácil da aldravia em voz alta. Isso é o contato dos inúmeros intertextos que se pode fazer com a aldravia.
Não sei se me arriscaria a chamar a aldravia de poesia instantânea, até por ela não ser tão instantânea e ter o poder de surtir os mesmos efeitos que um soneto inteiro de Baudelaire surte. Diria que o melhor poeta aldravista é o mais meticuloso, que não diz apenas seis palavras, mas cria seis versos inteiros e de peso com essas palavras. A aldravia, por mais simplória que possa parecer, é, pois, muito arriscada — não pode virar frase, não pode ser apenas seis palavras (des)conexas; tem de alcançar, nesses seis versos, a grandiosidade da Via-Láctea de Bilac e a simplicidade dum poema de Rimbaud.



Vinícius Siman

Escritor, diretor, crítico literário e militante dos direitos humanos. Tem nove livros publicados.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às sextas-feiras.
Contato: souzasiman@gmail.com

Comentários

  1. Muito bom. Disse muito bem. Seis versos monovocabulares. Seis palavras-versos para transmitir um máximo em um mínimo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas