ABOMINÁVEIS FORA MEDROSO DAS NEVES II
Cronto postado no canal aRTISTA aRTEIRO:
Quanto às pessoas de
intelecto,
já que a lei funciona
com precisão,
ela dá liberdade
aos seus usuários.¹
Em uma tarde linda, antúrios e trevos de quatro
folhas enfeitam o cotidiano de alguns. Ao mesmo tempo, na rede social
Caralivro, alguns Escritores apresentam uma pequena lista de pessoas e a eles
escrevem:
Oi!
É verdade que vocês são fãs de Boçalnaro ou conseguem encontrar nele algo
minimamente positivo? Não temos dúvida que este sujeito é indigno do menor respeito.
E sabemos que qualquer coisa advinda dele é malévola, ignóbil, infecciosa e
tóxica. Se observam algo bom vindo dele, não se ofendam, se puderem, mas
sintam-se à vontade de excluir-nos desta rede social, por favor; porque
afiançamos desprezar aquilo com força absoluta.
Na bela manhã seguinte, Escritores e outros discutem
o texto. Conforme verá abaixo. Mas enquanto os antúrios e trevos dos Escritores
vegetam ativos algumas pessoas vegetam passivamente suas vidas; e outras não,
graças a Deus. Estas florescem à semelhança de pequenos ipês brancos.
Entretanto...
Foto do
autor. Ipê branco.
BR 381 entre o Centro e o
Novo Cruzeiro. Ipatinga MG. Out. 2017.
Entretanto:
Absurdas
– Rerrerrirrê. Vão ter que deixar de falar com muita gente ou mudarem do
“Brazil” caso o líder supremo seja eleito.
Professores
– Gente! O que levaria mulheres negras a passarem uma vergonha dessas?
Digam-nos, Absurdas, é a servidão voluntária, a burrice, a ignorância ou a má
fé?
Artistas
– Como vocês disseram, Absurdas, é provável que tenhamos que deixar de
conversar com muitos... Mas vocês voltariam para a senzala. Algo que achamos absurdo,
mas quem defende o Boçalnaro que vocês defendem, apoia...
Abobados
– Bom dia, amigos Escritores! Respeitamos sua decisão de quererem distância de
que não pensa igual a vocês; mas, isso nos espanta, pois, em momento algum
pensamos algo semelhante a vocês por suas preferências políticas, “que são
sádicas”. Mesmo assim sempre respeitaremos. Lamentamos muito sua atitude, mas
vamos acatar.
Despolitizados
– Entendemos o repúdio dos Escritores, mas podemos deixar bem claro que em meio
essa guerra de retardados alienados em uma visão extrema de direita ou
esquerda, a gente passa muito longe disso... Preferimos acreditar que não
exista lado ou quem realmente nos represente em nenhuma parte política. Por
conta de sua atitude de agora, de entrar em uma página para ver quem curte e
segue a mesma, sendo que isso acaba te colocando no mesmo lugar que ele onde se
julga sem saber o porquê, onde não quer saber o motivo de pessoas estarem
curtindo a página e vários outros fatores. O nosso intuito de curtir a página
dele é simplesmente pelo fato de vermos sempre os dois lados da moeda para não
ter uma visão alienada como você aparenta estar sendo agora. Só não nos peçam
para pensarmos em política, pois a gente até olha, mas nada fazemos; não nos
envolvemos. Ficamos na nossa; cuidamos de nossa vida apenas e somente. Não nos
preocupamos com os demais. E por isso aceitamos o seu discurso de extremista ao
ponto de desfazer amizades em uma rede social, admiramos seus trabalhos, porém
caiu muito em nosso conceito agora. Aceitamos seu discurso e lhe excluímos para
voltamos à nossa esperança de que nada de pior aconteça.
Pensantes
– Pelo que entendemos, o desejo dos Escritores é que o excluam do rol de amigos
na rede social Caralivro. Quem acha que o verme supremo presta pra alguma
coisa, não é pra fazerem apologia ao ignóbil na timeline deles, não é pra
comentarem; é pra excluí-los. Entenderam ou querem que os Escritores desenhem?
Despolitizados
– Não somos fãs do Boçalnaro ou de qualquer político. Mudando o foco, mas
dentro do contexto, não vemos intolerância com bons olhos e acreditamos que,
principalmente no meio político, cada um pode e deve ter suas convicções. Não
sabemos as suas, também não nos interessa, mas independente de qual sejam,
continuaremos admirando-os por suas qualidades de escritores e não te
rotularemos por pensarem diferente de outros, seja em qualquer assunto. Quanto
à excluí-los do ‘cara’, não seríamos imaturos a esse ponto.
Artistas
– A função do artista é pensar e não se calar diante de barbaridades. Vocês não
esperavam conivência dos Escritores não, né? Intelectuais e fascistas não se
batem. Se defendem esse tipo de gente, é bem simples: excluam os Escritores.
Que parte disso vocês não entenderam? E é o seguinte: apoiar torturador,
racista, homofóbico, misógino, não é pensar diferente; é se calar diante de
atrocidades aos direitos humanos.
Despolitizados
– Apoiar político é uma atrocidade e pensar em política é bobagem.
Antilivros
– Marcações desnecessárias de nossos nomes. Se não gostam de ver o que postamos
ou curtimos já eram pra terem nos excluídos do Caralivro. Não entramos no seu ‘cara’,
não temos interesse em suas postagens e menos ainda nos interessam seus livros
e outros escritos. Se quiserem nos excluir, fiquem à vontade. Pela atenção,
obrigado. Sucesso pra vocês! Mas não contem conosco para comprar algum livro de
quem quer que seja. A gente não lê.
Escritores
– Ok. É justamente para isso que postamos este trecho; primeiro para excluir
quem apoia Boçalnaro e etc. E outro motivo da exclusão é como vocês disseram:
“Não lê o que postamos, o que escrevemos” e o objetivo de nossas páginas no
Caralivro é divulgar nossos trabalhos.
Professores
– O trabalho dos Escritores é produzir obras que fazem pensar, meditar, filosofar.
E como não os lê, estão sendo ‘incomodados’ pelas ideias. E como nada leem não
conhecem novas ideias. E o que não se renova, envelhece, apodrece e morre.
Avoados
– É, Escritores, não sabíamos que as escolhas das pessoas serem diferentes das
suas te incomodavam tanto. Que pena! Lidar com as diferenças é mesmo
desafiador, principalmente quando essas são antagônicas. Pessoas apoiam tanta
coisa e tantas pessoas que, se formos nos preocupar com isso, enlouquecemos.
Por isso acho bem mais interessante relacionar com essas diferenças e esses
diferentes.
Escritores
– Caríssimos Avoados, o que vocês chamam “lidar com as diferenças” tem um nome
composto e é “discurso de ódio” esse nome. Lidar com diferenças não é ser
conivente com pessoas que se refere a negros usando o termo “arroba”, que
afirma acabar com as reservas indígenas – exterminando, se preciso – para
roubar os minérios ali subterrâneos. Que diz necessário exterminar os
homossexuais e que mulher não passa de coisa para homem usar. Então RECUSAMOS
mesmo relacionar com pessoas desse nível e quem aprova um sujeito assim é
inimigo da humanidade. Justamente por convivermos com diferentes que não
aprovamos nem apoiamos ou ‘curtimos’ quem quer eliminar as diversidades. E
justamente por tê-los em alta conta, Avoados, nos surpreende seu posicionamento
de omissão: “Ah, Jesus andou com os bêbados e putas; então vamos andar com os
eugenistas e sexistas.”.
Foto do
autor. Ipê branco e Sapucaia.
BR 381 entre o Centro e o
Novo Cruzeiro. Ipatinga MG. Out. 2017.
E os Escritores se sentiram aliviados pela redução do
peso em suas páginas no Caralivro. E os ipês florescem com as róseas folhas de
sapucaia baixo ao céu nublado.
¹ TANIGUCHI, Masanobu. Liberdade. Canto em Louvor ao Bodisatva que Reflete os Sons do Mundo. Hokuto:
Seicho-No-Ie. 2017.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad
Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor
de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É
pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na
Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e
Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da
Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de
Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da
Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Escrito em 15 de abril de 2017 e trabalhado no mesmo ano,
entre os dias 29 de setembro e 05 de outubro.
Comentários
Postar um comentário