Um Conto Onde Pessoas são Assassinadas




Josivan teve um dia infernal, o trânsito estava horrível, o calor, como de costume, estava lancinante, o ônibus estava sempre lotado e mais pessoas subiam do que desciam, levando-o a ser xingado e alvo de sarcásticas reclamações furiosas como “tá carregando é gente, motorista”. Tão estressante foi o trabalho que, terminado o expediente, não foi para casa, apenas tirou a camisa do serviço, suada e fedida, e trocou por outra que trazia na bolsa, foi direto para um estabelecimento chamado “bar do baiano”, ainda relativamente vazio, devido ao horário.
– Bote aquela amarelinha. – Pede ele, recostando-se na dura cadeira metálica.
Em minutos chega a meiota de cachaça amarela e um copo, com alguns limões em seu interior, tira os limões, coloca-os sobre a mesa, deixando o copo de vidro livre, enchendo-o do líquido de forte cheiro e virando-o em seguida, ingerindo de uma golada só:
– Eiiita. – Diz ele, após as caretas que normalmente o primeiro copo da noite acarreta.
Imediatamente repete o processo, mas dessa vez bebe como água a cachacinha. O nível de álcool dessas bebidas é normalmente muito alto, o que já causa certa “alegria ao pinguço.
Um homem entra no bar, está todo de roupa social, mas molambento, sua camisa está despassada e manchada, entra e caminha vagarosamente até a mesa onde Josivan está sentado.
– Opa, amigo, diga! – Cumprimenta Josivan, liberando um bafo a cada vez que abre a boca.
O homem apenas fica parado, por longos segundos, diante de Josivan, olhando-o de forma hostil, faíscas quase podem sair de seus olhos. Diante da estranha situação, Josivan solta:
– Que foi, gostou, foi?
O homem então puxa a cadeira, arrastando-a de forma brusca no chão, emitindo um ruído metálico agudamente irritante, senta-se de forma sutil, contrastando com a forma como puxou a cadeira. Coloca sua mão dentro da camisa e começa a falar baixo.
– Tenho uma arma.
– Olhe... Rapaz... Olhe. – Responde Josivan, claramente desconsertado, a “alegria” passou tão rápido quanto chegou.
Está escurecendo, a tendência é que esfrie um pouco, mas aqui a temperatura continua a mesma do meio do dia, quando o sol está, em nossa perspectiva, no topo.
– Você vai morrer. – Coloca friamente, sem qualquer remorso, o homem.
– Me mostre ao menos a arma, como que vou ficar com medo? – Pede Josivan, com uma perigosa curiosidade, afinal, isso só pode ser brincadeira.
Levanta um pouco a camisa, mostrando um velho revolver. Vendo isso, o rosto de Josivan fica com a face avermelhada, qualquer vontade de beber passa, a garganta fica ainda mais seca e a cachaça bebida parece chegar ao estômago mais rápido.
– V-você quer dinheiro? – Pergunta Josivan, gaguejando, falando baixo.
– Não. – Responde secamente o homem armado. – Escute bem o que vou contar.
– C-certo.
– Hoje de manhã me arrumei, vesti minha melhor roupa social, pois tinha, pela primeira vez em muito tempo, uma entrevista de emprego. No caminho eu andava confiante, confiava que passaria, até que determinado ônibus passou e jogou lama de uma poça em mim.
– Você acha que fui eu?
– EU SEI QUE FOI VOCÊ!
Após ouvir a exclamação, Josivan engole seco.
– Nunca fedi tanto na minha vida, tive que voltar em casa e me arrumar de novo, porém quando cheguei na empresa a hora já tinha passado, ninguém iria falar comigo.
– E como sabe que fui eu?!
– Eu anotei a placa e liguei para a empresa, pedindo que me indicasse o motorista daquele ônibus.
– E-espera.
– Felizmente sua empresa preza pela transparência.
– Eu tinha horário, estava atrasado, não pude diminuir.
O Homem tira então a arma da cintura rapidamente e aponta progressivamente para Josivan.
– EU NÃO TO NEM AI! – Exclama ele, furioso, descarregando todo um cartucho no tronco de Josivan, que cai para trás, engasgando-se com o próprio sangue.
O cheiro de pólvora toma conta do local, o dono do bar, desesperado, pega uma calibre 12 e atira contra o homem que é arremessado sobre o corpo de Josivan, dando ainda mais volume a poça de sangue que se forma ao redor.
Os dois dão , juntos, seus últimos suspiros, o sangue de Josivan suja o rosto de seu assassino, o sangue se seu assassino mistura-se ao seu.
Belo fim... E morreram para sempre.
Mais tarde o dono do bar, no calor do momento, suicidou-se, pois não queria ir para a cadeia, haja visto que não constitui legitima defesa sua atitude movida pelo medo. Matou-se com a mesma arma que ceifou a vida daquele outro, seus miolos enfeitam o teto por horas.

Um ménage sangrento.



SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com







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