Michel Temer abandonado ou Bem Vindos ao Deserto do Real... No Brasil.
Enfiaram uma estaca no peito do vampiro...
Ninguém acreditava muito no julgamento
da chapa Dilma-Temer, que seria tutelada pelo amigo do peito do golpista,
Gilmar Mendes, afinal o juizeco tinha jantares pessoais com o interventor
Michel Temer fora de sua agenda, o seu juízo seria, no mínimo, duvidoso. Mas o
áudio relevado na quarta feira foi uma grande reviravolta, de repente o vampiro
do Planalto cai e é abandonado.
Sim, Michel Temer caiu, não renuncia de
teimoso, mas há de sair em breve, afinal, a elite que o colocou no poder está
saindo de sua base, Globo, MBL e diversos outros grupos desonestos e apoiadores
do golpe que foi direcionado a democracia.
Após a derrota em 2014, a direita,
furiosa por ter sido derrotada pela quarta vez, passa a "encher o
saco" da administração Dilma, que fica de mãos atadas em diversos
momentos, obrigada a atender as reivindicações da burguesia brasileira, mas de
forma relutante, haja visto que temia perder sua base eleitora, a classe
trabalhadora brasileira, principalmente das regiões Norte e Nordeste. A elite
então precisava de alguém que colocasse a crise econômica nas costas dos
pobres, e alguém que o fizesse sem pestanejar.
O ano de 2015 transcorreu de forma
violenta, extremismos ficaram patentes, "a ressaca da eleição" não
passou, Aécio Neves, o político patético, corrupto e antiético que caiu junto
com Michel Temer, o candidato derrotado de 2014, passou a inflamar a população
que nele havia votado para ir as ruas, e para isso contou com um aparato
generoso, a maior rede de comunicação do Brasil, a Globo, um grupo de liberecos
fantoches chamado MBL e, principalmente, logo o movimento tornou-se gigantesco,
dominicais passeatas de indivíduos bem alimentados e ricos (Ou que se
imaginavam ricos, no caso da Classe Média alta e média) passaram a gritar
"Fora Dilma" e a piada pronta do momento: "A culpa não é minha,
eu votei no Aécio".
Os verde e amarelo das ruas e todos os
grandes informativos de Massa passaram a pressionar pela tirada do PT do poder.
Em meio a uma crise econômica onde muitos indivíduos em ascensão veem, gradativamente,
seu poder de compra cair, demissões e regressões em massa, criou-se uma
narrativa, lançou-se um sentido sobre tudo, raso como uma poça d'água depois da
chuva, palpável para todos e todas que se permitissem ser atraídas pelas
paixões hiperbólicas do momento: A culpa de tudo isso era do PT, que governou o
país por 13 anos e o colocou no buraco.
Logo a narrativa fascista de
"passado glorioso a ser recuperado" tomou diversas formas: Para
alguns o Governo FHC tinha feito grandes avanços, que foram destruídos pelo
governo Lula-Dilma, já para outros o tempo bom era o da Ditadura (Que para
alguns não existiu como "Ditadura") , onde se "tinha ordem e
respeito". Os defensores da primeira versão da narrativa se transformaram
nos liberais anarcocapitalistas (HAHAHA) leitores de Mises e INIMIGOS de tudo
que diz o contrário, os da segunda narrativa tenderam para o fascismo declarado
("Declarado" entre aspas, pois ninguém se admite fascista no Séc.
XXI, como diria um amigo meu, em clara ironia: "Fascismo não existe mais,
nem antissemitismo, nem homofobia"), esses, mais violentos, ao contrário
da moderação cínica dos ancaps e miseístas, deixaram suas paixões saírem,
abraçaram seus preconceitos, arranjaram um ponto convergente - Jair
Bolsonaro.
O que eles tem em comum? Pouco, na
verdade, se pararmos para pensar teoricamente, porém, na prática, os dois
grupos deram as mãos na empreitada de protestar e minar o governo do PT, o bode
expiatório.
Mas a narrativa, para ser palpável,
precisa de um ponto material, um elemento imagético que consiga dar mais
realidade a visão de mundo, a própria Globo cuidou disso, dedicando horas
inteiras de sua programação a um sensacionalismo barato para denegrir o
ex-presidente Lula por meio da supressão da pressuposição da inocência (Todos
são inocentes até que se prove o contrário), criando uma expectativa de
sentença e uma culpa "fantasmagórica" sobre o investigado que beira
ao cômico (Ninguém sabe do que Lula é culpado, ninguém viu ou ouviu casos de
corrupção ligados diretamente a ele, mas culpado ele é... Por alguma coisa).
Mas, se Lula é o vilão da narrativa, precisa-se de um herói que o enfrente, a
mesma mídia cuidou para que esse herói fosse criado... Sergio Moro.
![]() |
Lula deu materialidade a narrativa de bode expiatório vinculada pela grande mídia |
Nesse
contexto, a Lava Jato estava mordendo a bunda dos políticos corruptos e lhes
enchendo de medo, embora, muito curiosamente, políticos petistas fossem os
alvos prediletos. Parar a sangria era necessário, mas quem faria isso? Quem
daria o pontapé inicial para o estancamento?
Eduardo
Cunha foi eleito presidente da câmara dos deputados em 2015, logo após sua
posse, declarou guerra a todas as pautas progressistas. Sobre ele já pesavam
diversas denúncias e sabia-se que este era um velho manipulador por detrás das
sombras, um corrupto das antigas. Quando foram descobertas contas na Suíça em
seu nome e foi aberto contra ele processo no conselho de ética da câmara, o
desespero bateu, a casa havia caído, aparentemente... Porém, não ainda, ao
menos. Enfurecido pela falta de apoio do Governo no seu caso, procurou
vingança, e essa vingança consistiu em atender ao anseio de toda a escória
reacionária do Brasil... Impeachment de Dilma Rousseff.
Durante
todo o processo de impeachment, iniciado em um dos domingos mais vergonhosos da
História do país, as máscara da legalidade e o mito do legalismo rondaram, a
narrativa de que a constituição estava sendo seguida e que havia crime de
responsabilidade (Embora ninguém soubesse exatamente qual).
Enfim,
tudo isso é bem sabido, o que importa é que em volta da fúria de Eduardo Cunha,
que jogou a constituição no lixo por medo de ser preso, se agregaram os
interesses da burguesia e a possibilidade de levar a cabo o projeto "Ponte
para o Futuro", que, como todo discurso liberal, é um conto de fadas de
letra morta, onde "desenvolvimento" é ligado a precarização para os
mais pobres.
Michel
Temer virou o rosto do golpe, tanto por estar disposto a isso, como pelo PMDB
ser sempre desejoso de poder e estar sempre ligado às estruturas em vigor, como
também para dar força a narrativa da legalidade (Quando o presidente sofre
impeachment, quem assume de imediato é o vice, não?)
Desde
que Michel Temer assumiu, primeiro como interino, depois como presidente de
fato, o antes obscuro vice-presidente transformou-se no homem mais polêmico e
odiado do país, a esquerda e a centro-esquerda manifestavam (Ao menos na
retórica) aversão a ele, enquanto liberais amavam suas medidas e os fascistas
intervencionistas o endossavam por "Pelo menos não ser do PT".
Porém,
com o avanço das medidas impopulares, ia ficando claro que o "Ponte para o
Futuro" é para os mais ricos, coloca nos pobres a responsabilidade pela
crise, transforma "direito" e "investimento" em
"regalia" e "gastos", a popularidade de Temer, em 2017
baixou como nunca, explodindo agora com a delação.
Bem... Por que a Globo se voltou contra ele? Será que Temer estava indo devagar demais? Será que sua falta de liderança incomodava quem o havia colocado no poder? Será que ele estava fazendo tudo certinho, mas sua falta de carisma e baixa popularidade se tornaram tóxicas? É difícil responder sem ser conspiracionista, mas que Temer está caindo por ter desagradado à burguesia de alguma forma... Ah, isso ele está.
Bem... Por que a Globo se voltou contra ele? Será que Temer estava indo devagar demais? Será que sua falta de liderança incomodava quem o havia colocado no poder? Será que ele estava fazendo tudo certinho, mas sua falta de carisma e baixa popularidade se tornaram tóxicas? É difícil responder sem ser conspiracionista, mas que Temer está caindo por ter desagradado à burguesia de alguma forma... Ah, isso ele está.
Difícil
responder o que virá, é provável que as eleições indiretas vão colocar alguém
disposto a continuar as reformas do "Ponte para o Futuro" com mais
firmeza e rapidez, mas não sei se eleições diretas irão resolver muita coisa
dentro do contexto de crise e incerteza que o golpe de 2016 instaurou na
democracia Brasileira.
O
clima é de pós-guerra... Para que o golpe do ano passado ocorresse, a mídia
trouxe para fora diversos sentimentos subterrâneos dos brasileiros, destruindo
completamente o mito da paz entre etnias e "povo de alegria",
exacerbou a fúria, os extremismos, as desigualdades, o racismo, o machismo; o
direito foi picotado, dobrado, criaram-se nele precedentes bizarros e
improvisos perigosos. A tosca ideia de "homem cordial" revelou-se um
equívoco, a democracia brasileira desnudou-se, revelou seus mal resolvidos,
suas roupas sujas, suas bases podres desde a gênese. Diante de tudo, nós nos perdemos,
ficamos a pensar: Onde isso começou? Quando vai terminar? As narrativas de povo
pacífico e amigável, a democracia a là brasileira... Tudo isso não é mais
válido, tudo ruiu agora, diante da percepção de que, por anos, o governo nada
mais foi do que um campo de negociações dos ricos para os ricos, que
maquiavelicamente deixam as sobras para os mais desfavorecidos (Já dizia Marx
que o Estado é a mesa de negócios da burguesia). Em 2017 a hipérbole do normal
permitiu que esse estado normal fosse visto, a democracia brasileira
implodiu-se, mas sendo tudo isso tão antigo é correto dizer que alguma vez
houve democracia de fato?
Estamos
diante das ruínas, as cortinas caíram.
Bem
vindos ao deserto do real....
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
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