A (O) INVISÍVEL TRABALHADORA – O




As coisas passam rápido, como vultos, através da janela da porta metálica, o vento bagunça meus cabelos. Olho para os que estão sentados nas poltronas, alguns estão de pé, com fones de ouvido ou, como eu, a olhar pela janela.
– Alguém na próxima? – Pergunto, sem resposta, sequer viram o rosto.
Ao passar pela parada ponho a cabeça para fora, o vento em contato como meu suor causa calafrios.
– Vão p C., via U.?! – Grito, não olham, dai continuo a gritar inutilmente, por obrigação.
Volto para dentro, a olhar para os passageiros. Já está anoitecendo, minhas axilas fedem muito, durante a tarde a temperatura aqui passa dos 38ºC, sendo assim quase sinto o sabor amargo do fedor que me sobe às narinas.
– Alguém na próxima? – Faço-lhes a pergunta padrão, mais uma vez sem resposta. Um “não” faz falta às vezes.
Mais essa viagem, só mais essa viagem...
– Cobrador, eu desço na próxima. – olhem só, alguém falou, mas deve ter problemas de vista, pois sou uma cobradora.

Dane-se...



SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com








Comentários

  1. Às vezes até um não pode ter força de sim. Se não no significado é na comunicação e na humanização.

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