AULAS DE HISTÓRIA
Rubén Omar Sosa escutou a lição de Maximiliana num
curso de terapia intensiva, em Buenos Aires:
Foi a coisa mais importante que aprendeu em seus anos
de estudante. / Um professor contou o caso. Dona Maximiliana, muito alquebrada
pelos anos de labuta de uma longa vida sem domingos, estava há vários dias
internada no hospital e todo dia pedia a mesma coisa: / - Por favor, doutor, o
senhor podia medir minha pulsação? / Uma suave pressão dos dedos no pulso, e
ele dizia: / - Muito bem. Setenta e oito. Perfeito. / - Está bem, doutor, muito
obrigada! Agora, por favor, meça minha pulsação? / E ele tornava a medir, e
tornava a explicar que estava tudo bem, que melhor, impossível. Dia após dia, a
cena se repetia. Toda vez que ele passava pela cama de Maximiliana, aquela voz,
aquele sussurro, o chamava, oferecia esse braço, esse raminho, uma vez, e outra
vez, e outra. / Ele obedecia, porque um bom médico deve ser paciente com seus
pacientes, mas pensava: “Essa velha é uma chata. Deve estar faltando algum
parafuso nessa cachola.”
Levou anos para entender que ela estava pedindo que
alguém a tocasse.
Uma aula de medicina, Eduardo Galeano.
Publicado por Luís Gonzáles na manhã de 03 de
fevereiro de 2017 no facebook.
, então. Ipatinga tem dezenove vereadores. Assim
alguém que está entre os dez mais votados é eleito. Certo? Mas não é assim.
Sávio Tarso não ocupou o cargo. E isso porque quem elege não é o povo. Apenas
somos mais uma vez enganados; iludidos pela ideia de democracia. Ganha quem os
conchavistas decidem.
- Vejo que começou o cronto com uma vírgula... Está
que copia Clarice Lispector, hem?
- Rerrê. Se é para imitar, que seja a que valha a
pena.
Claudio, Benito, Savio, Robinson, Siman discutem a
vida com alguns coxinhas, sentados à mesa no Avesso. Bar que fica no centro
comercial do bairro Cariru, em Ipatinga.
- Rejeitar imigrante agora é discurso de quem não
conhece a História? Ou conhece e o repete assim mesmo? Eis a questão...
- Às vezes acho que estes que rejeitam imigrantes não
desconhecem a história. É justamente por a conhecerem bem que eles buscam não
deixar entrar alguém que, assim pensam, pode fazer o mesmo que eles. É o que
venho pensando já faz algum tempinho.
- Você pode estar certo mesmo.
- Ontem vi um filme que alguns anos atrás comecei a
ver, mas não terminei e até então nunca o encontrara.
- É? Que filme?
- Bent. Lançado em 1997. É um filme emotivo e sombrio
que fala sobre os homossexuais nos campos de concentração nazistas. Uma cena
muito interessante é quando dois dos três protagonistas tem uma relação sexual
sem se tocarem...
- Como assim?
- Eram obrigados a um trabalho sem nenhum propósito;
talvez fosse esta a tortura: apenas para enlouquecer. Tinham que carregar
pedras de um lugar para o outro. Quando acabavam, levavam o monte para outro
lugar e assim sucessivamente. Em determinados momentos soava uma sirene e
tinham que ficar parados em pé por três minutos para descansarem. Em um destes
instantes um foi dizendo para o outro onde estavam se beijando, se tocando...
Tiveram um orgasmo.
- Que ridículo.
- É... Talvez...
- Por isso não acredito que os nazistas eram este
monstro todo. Cometeram alguns erros, mas suas propostas eram bo...
- Mas e aí?
- Um deles estava muito doente e o outro, que se
fingia de heterossexual e usava a estrela amarela no lugar do delta rosa, para
conseguir remédio dá seu corpo para um soldado ou oficial nazista.
- Por que não usava o delta rosa?
- Porque na escala nazista, o delta rosa era o mais
baixo de todos...
- Compreendo. Mas o que aconteceu no final.
- O soldado ou oficial descobre para quem foi o
remédio e decide matar o que estava doente. Este então faz algo que irrita mais
ainda o nazista, escolhe seu destino: corre em direção ao que estava com a arma
e morre.
- Idiota!
- Idiota? Os nazistas odiavam que seus prisioneiros
tivessem alguma escolha. E decidir a hora de morrer e escapar das torturas era
inaceitável.
- Morreu em vão. O nazismo durou só poucos anos.
- Depois que um período acaba é fácil dizer isso, mas
não enquanto ele está ocorrendo. Além do mais, o guarda já tinha decidido
matá-lo; então que morra por decisão própria e não pela do inimigo. É a mais
potente resistência em tal situação.
- É... talvez! Mas e o outro protagonista?
- Ele, que tinha jurado sobreviver a qualquer custo,
recebe dos soldados a ordem de despejar o cadáver assim que saíssem. Pega o
corpo, leva para uma vala com outros corpos de prisioneiros, volta a trabalhar,
muda de ideia e troca sua camisa com a estrela amarela pela camisa com o delta
rosa de seu companheiro, volta ao trabalho, para, vai até a cerca, segura o
arame farpado e morre eletrocutado. – Olhando nos olhos do coxinha: Se você
chamá-lo de idiota te dou um murro.
Caso queira ver-me lendo AULAS DE HISTÓRIA:
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad
Substantiam semanalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor
de Português, Literatura e Artes. É graduado em Letras Português; tem quatro
pós-graduações e é Mestrando em Educação pela Universidad Europea del
Atlántico. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura) e atualmente é Secretário do Clesi (Clube de
Escritores de Ipatinga).
Escrito entre 28 de fevereiro e 02 de março de 2017.
Muito bom texto. Interessante e nos prende com muita facilidade até o final. Parabéns!
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