Na Janela do ônibus em um dia chuvoso



Chovia, depois de meses sem chover, as janelas do ônibus ficaram desfocadas, as luzes dos postes se expandiam pela umidade da janela, transformando-se em vultos luminosos. Você me abraçava, estava frio, você usava uma camisa minha, que estava enorme, suas mãos não apareciam nas longas mangas, nossos rostos estavam próximos, o cheiro do seu cabelo molhado me aconchegava, você encostava sua bochecha a minha, mas não podíamos nos beijar.
– Me beija. – Pedi, colocando a mão em sua nunca, que escorria a água do cabelo encharcado.
– Não posso. – Respondeu ela, baixando a cabeça, escondendo seus olhos tristes.
Soltei sua nuca, mas me mantive no abraço, virei meu rosto e olhei para as janelas que pingavam.
Foi nesse momento que meu amor transformou-se em culpa.



SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com





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