PRAÇA POENTE – LUÍS OUTRA VEZ

PLAZA PONIENTE – LUÍS OTRA VEZ



Rubem Leite – palavras da imagem.

Tiago Costa – imagem das palavras.



Em português

Um

O marido de Maria Cloenes está trabalhando em uma empreitada longínqua. Mas ela é artista da dança e ontem encerrou uma temporada. Descansada da noite anterior preparou o café da manhã. Olhou com carinho para a mesa e foi para o interior da casa. Lucas, o filho de treze anos, saiu do banheiro e foi para cozinha comer. Não se viram enquanto isso. Enquanto prepara o pão, um barulho no quintal, levanta a cabeça e vê o irmão que não aparecia a meses. Eu, quando o vi, achei que ele era um marginalzinho, mas né não. É só um rapaz. Não tem nada de mais, exceto que parece com o ator Cauã Reymond. O garoto, porém, ao ver o irmão não teve dúvida e já foi logo abraçando. Os dois riram e o mais velho pegou o pão do caçula e, os dois rindo, comeu o pão. Enquanto o mais novo prepara café com leite para os dois, o mais velho, Luís, passa manteiga em um pão para o irmão. Cloenes aparece e parece chocada com o filho. Os três param, sérios. Mãe e filho se olham, sérios. O caçula olha para os dois. Mãe e filho se abraçam. Não há críticas, julgamentos, condenações. Só há amor. O caçula abraça os dois.
Coisa de garoto. Luís se apaixonou por uma cinquentona bonita, gostosa e experiente. Rica. Sempre na Daslu ao contrário da poeta e escritora Nena de Castro que diz só poder ir na Daspu...

Dois

– Momô! – É assim que ela diz ‘meu amor’ – Estou me sentindo tão falha com a sociedade. Estive pensando e acho que vou adotar.
Nem conversam muito. Ela decidiu e pronto. Vão para as ruas, para um grupo de mendigos. Anda por eles como se escolhesse – escolhendo mesmo, na verdade – qual lhe faria mais social. Os mendigos olham para aquele casal bem arrumado no meio deles parecendo mãe e filho. Pensam em pedir esmola, mas ficam apenas olhando para saber o que querem.
 – Momô! Gostei desse.
Fala parando diante de uma negra – Não! Crioula! É como ela pensa – com um bebê no colo e duas criancinhas brincando aos seus pés...
– Dona! Vou levar o que é mais pretinho.
A mulher aperta mais o bebê no peito.
– Pago cem. Não! Pago duzentos.
– Mas são meus... – Nos seus olhos uma angústia.
– Só quero um! E pago quinhentos.
– Mas o meu... – Aperta ainda mais o lindo bebezinho, que reclama do desconforto. Nos olhos da mãe uma angústia.
– Está bem! Pago mil.
Nos olhos da mãe uma angústia e uma dúvida. Seria dinheiro para ela e as duas crianças no chão passarem uns seis meses. Mas o bebê lindinho terá conforto. Na mãe dúvidas e dor. E depois decisão.
– Pode levar, dona.
Poucos meses depois, numa madrugada. Aproximadamente cinco horas:
– Momô querido! Tá na hora de levar os bebês para fazerem suas necessidades.
Luís passeia com Bibi, Cici e Didi. Os cachorrinhos de Quiqui, sua... Ele não sabe. Achou que eram noivos. Agora está em dúvida se são só amantes ou... Isso não vem ao caso, Luís não quer pensar nisso. Então não nos cabe discutir. O garoto leva os cachorrinhos – até que eles são bonitinhos e não muito chatos. Bibi é púdou, Cici é bassê e Didi é viralata (para fazer a “social”, entende? Quiqui deu dez notas de cem, tirou do colo das crianças um cachorrinho, o mais pretinho e foi embora alheia à surpresa feliz da mãe) –. Desce a escada com os bebês, quinze minutos depois voltam e três homens se aproximam. Um na frente andando meio molemolente, como se bêbado, drogado ou malandro otário.
- Píííííííchi! – É com esse som que os cachorrinhos são chamados. – Para casa, vamos! – Enquanto fala desvia sua atenção para os cachorros e imediatamente depois procurando os homens... “Cadê eles”, pensa e percebe que deram meia volta e retornaram a rua transversal, a Sabará. “Será que iam me assaltar e desistiram por causa dos cachorrinhos? Ficaram com medo deles? Rarrá!”.

Três

No Festival da Cachaça, em Ipatinga, Luís foi com uns colegas de escola. Nilmar conheceu Jaqueline e Herique conheceu Bárbara. Agora Nilmar e Jaqueline têm Gabriel e Pedro. Herique e Bárbara têm um ao outro. Mas naquela noite os quatro a passaram dançando. Luís estava chateado balançando o corpo solitário enquanto seus amigos se divertiam.
– Oi!
– Oi! – Responde à mulher sem atinar com a intenção dela.
– Seus amigos estão contentes.
– É!
– Também estou sozinha. Venha para minha mesa.
Vai? Fica? Dança? Senta? Que ela quer? Deve ser só conversar. Tem mais idade que Cloenes. Muitos pensamentos passam no segundo que leva para decidir.
– Se a senhora...
– Senhora não, querido. Quiqui. É assim que me chamam. Eu quero que me trate por “você”.
Ele a segue até sua mesa e passa o resto da noite sendo embebedado por ela. Dorme em seu apartamento. Dorme outras noites. No início vez ou outra. Briga com a mãe. Briga outra vez com mamãe e outra. E outra. Então mora com Quiqui, que lhe dá sexo, roupas, celulares, notebuque, sexo, paga adiantado um ano de um bom curso de inglês e sexo. Até não aguentarem mais. Um ao outro.

Quatro

É no apertamentinho do Lúcio que está dormindo. Com ele. E também se mantêm acordado algumas noites. E nos dias, quando estão juntos, conversam e namoram. A manhã está tranqüila. E Luís pensa: “O dia promete ser tão bonito quanto Lúcio e, sem falsa modéstia, tão gostoso quanto eu”.
– Luís! – Lúcio chama com voz rouca e termina de acordar o amigo com um beijo na nuca – Vamos! Nossos trabalhos não esperam.
– Huuuuum! Quero ficar. Estou acabado. – Responde, mas se levanta, vai ao banheiro mijá e tomar banho enquanto Lúcio se barbeia. Luís olha curioso para Lúcio. “Como consegue se barbear tão bem... Ele é cego. Eu me corto todo”. Enquanto se enxuga Lúcio prepara o café. Depois cada um vai cuidar de sua vida. É que são universitários e têm seus trabalhos. Lúcio faz Letras e Luís também. É provável que agora só se vejam na próxima quinta-feira. A dupla se gosta, mas são muito jovens para se amarrarem. Mas se um dia tiverem coragem de ficar de vez com alguém, e publicamente com um cara, serão um com o outro.
– Luís! Ô Luís!
– Heim?
– Que foi? Está paradão...
– Conheci um cara esses dias... – Lúcio fecha a cara, enciumado. Mas se controla enquanto Luís continua – Ele é cego, feito você.
– Ê?
– Falei de nós. Pensei que ele fosse entender. Jovem... Cego... Quer dizer, acostumado com os preconceitos. Parecia inteligente...
– Ê?
– Ele falou que sou um tarado por me aproveitar de você. Falou que você deveria ter vergonha. Falou que você, além de cego, bicha. Uma bichinha ceguinha. Para que desmoralizar todos os cegos. Já são motivo de pena e agora de vergonha. Quase gritou. Acho que só se controlou para não chamar a atenção.
– Qual é o nome do cara?
– Thiago.
– Não conheço e nem quero. Se alguém sente pena de mim eu tenho dele. E você não é tarado. Ou é?
- Um pouquinho...
- Que bom.
Os dois riem. Imagino que você, cara pessoa que lê a história, percebeu isso, o humor na conversa dos amigos.
– Você tem pena de mim?
– Não!
– Então acho que não temos mais nada a falar. Sou cego. Sou homem. Eu me mantenho. Eu tenho orgulho de te conhecer e de te amar. Por mim essa conversa pára por aqui. Eu não tenho medo de ser feliz, cara! Não tenho.


En español

Un

El marido de María Cloenes está trabajando en una fábrica en una ciudad longincua. Sin embargo, ella es artista de danza y ayer cerró una temporada. Descansada de anoche hizo el desayuno. Miró cariñosamente a la mesa y se fue a su habitación. Lucas, el hijo de trece años, salió del baño y se fue desayunarse. Pero, no se vieron. Mientras prepara el pan, un barullo en el patio, levanta la cabeza y ve el hermano que no aparecía a meses. Yo, cuando lo vi, pensé que él era un marginalito, pero no lo es. Es solo un muchacho. No es nada excepcional, excepto que se asemeja al actor brasileño Cauã Reymond. Sin embargo, al ver el hermano el chaval no se dudó y lo abrazó deprisa. Los dos rieron y el mayor sacó el pan del benjamín y, los dos riéndose, comió el pan. Mientras el benjamín pone café con leche en tazas para los dos, el mayor, Luís, pone mantequilla en un pan para el hermano. Cloenes aparece y parece espantada con el hijo. Los tres paran, serios. Madre e hijo se miran, serios. El benjamín los mira. Madre e hijo se abrazan. No hay críticas, juzgamientos, condenaciones. Solo hay amor. El benjamín los abraza.
Cosa de muchacho. Luís se apasionó por una cincuentona guapa, sex y experta. Adinerada. Siempre en la Daslu¹ al contrario de la poeta y escritora Nena de Castro que habla frecuentar solo la Daspu¹…

Dos

- ¡Mimo! – Es así que ella dice “mi amor”. – Estoy sintiéndome tan fracasada en relación a la sociedad. Estuve pensado y creo que voy a adoptar.
No conversaron mucho. Pues de pronto ella decidió. Los dos se van para las calles hacia un grupo de mendigos. Camina entre ellos, como se seleccionase – en verdad escogiendo mismo – cual la haría más social. Los pordioseros miran aquella pareja muy limpia entre ellos pareciendo madre e hijo. Piensan en pedirles limosna, pero solamente se quedan mirándolos para saber o que quieren.
- ¡Mimo! Me gusta ese.
Habla parando delante de una negra - ¡No! En verdad, ¡criolla! Es como ella piensa – con un nene en los brazos y dos niñitos jugueteando a sus pies…
- ¡Dueña! Voy llevar a lo que es más negrito.
La mujer aprieta más el nene en el pecho.
- Pago cien. ¡No! Pago doscientos.
- Pero… son míos… – En sus ojos una angustia.
- ¡Solo quiero un! Y pago quinientos.
- Pero, es mío… – Aprieta aún más el lindo nene, a que no le gusta la incomodidad. En los ojos de la madre un sufrimiento.
- ¡Está bien! Pago mil.
En los ojos de la madre un sufrimiento y una duda. Sería dinero para ella y los niños no vendidos casi bien vivieren por seis meses. Sin embargo, el lindo nene tendrá una vida mejor. En la madre, dudas y dolor. Y después, decisión.
- Puede levarlo, dueña.
Pocos meses después, en una madrugada. Cerca de las cinco horas:
- ¡Mimo cariño! Es hora de salir con los nenes para que hagan sus necesidades.
Luís sale con Bibí, Cicí y Didí. Los perritos de Quiquí, su… Él no sabe. Pensó que eran novios. Ahora tiene duda si son solo amantes o… No importa, eso no viene al caso. Luís no quiere hablar sobre eso y menos aún pensar en eso. Entonces también nos callamos. El chavo lleva los perritos – hasta que son bonitos y poco aburridos. Bibí es pudou, Cicí es basé y Didí es callejero (para hacer la “social”, ¿comprendes? Quiquí dio la plata prometida y, por generosidad, un poco más. Quitó de los brazos de los niños un perrito, el más negrito y se fue ajena a la sorpresa feliz de la madre). – Se baja a la calle, quince minutos después vuelven y tres hombres se acercan. Una en la frente caminando de una manera temblante, como se fuera un borracho, drogado o malandrín otario.
- ¡Piiiiiiiichi! – Es con este sonido que los perros son llamados. – Para casa, ¡Ándales! – mientras habla desvía su atención para los perros e inmediatamente mira en búsqueda de los hombres… “Dónde están”, piensa y percibe que dieron media vuelta retornaron a calle transversal, la Sabará. “¿Me iban a robar y desistieron debido a los perritos? ¿Si quedaron con miedo de ellos? ¡Jajá!”.

Tres

En la Fiera de Cachaza, en Ipatinga, Luís se fue con unos compañeros de escuela. Nilmar conoció Jaqueline y Herique conoció Vanusa. Ahora Nilmar y Jaqueline tienen Gabriel y Pedro. Herique y Vanusa tienen un al otro. Pero en aquella noche los cuatro bailaron por toda ella. Luís estaba aburrido balanceando el cuerpo solitario mientras sus amigos se divertían.
- ¡Hola!
- ¡Hola! – Contesta a la mujer sin atinar con la intensión de ella.
- Sus amigos están contentos.
- ¡Sí!
- También estoy sola. Venga para mi mesa.
¿Se va? ¿Se queda? ¿Baila? ¿Sienta? ¿Qué ella desea? ¿Quiere solo charlar? Su madre, Cloenes, es más joven. Muchos pensamientos vuelan en el segundo que lleva para decidir.
- Si la señora…
- Señora no, cariño. Quiquí. Es así que me llaman. Quiero que me trates por “tú”.
Él la siegue hasta su mesa y por toda la noche es emborrachado por ella. Duerme en su piso. Duerme otras noches. En inicio vez u otra. Pelea con la madre. Pelea otra vez más con la madre y otra. Y otra. Entonces pasa a vivir con Quiquí que le dona sexo, ropas, ordenadores, móvil, sexo, paga adelantando un año de un bueno curso de inglés y sexo. Hasta no aguantaren más. Uno al otro.

Cuatro

Es en el piso de Lucio que estay durmiendo ahora. Con él. Y también manteniéndose despierto algunas noches. Y en los días, cuando están juntos, platican y charlan encantándose mutuamente. La mañana está tranquila. Y Luís piensa: “El día promete ser tan bonito cuanto Lucio y, sin falsa modestia, tan exquisito hecho yo”.
- ¡Luís! – Lucio llama con voz ronca y termina de despertar el amigo con un bezo en la nuca. - ¡Vámonos! Nuestros trabajos no esperan.
- ¡Huuuuum! Quiero quedarme. Estoy débil. – Responde sonriendo, pero se levanta, se va al baño mear y ducharse mientras Lucio se afeita. Luís lo mira curioso. “Cómo consigue afeitarse tan bien… Es ciego. Me corto todo”. Mientras se enjuga Lucio prepara el desayuno. Después cada uno se vuelve a su vida. Es que son universitarios y tienen sus trabajos. Lucio estudia Letras y Luís también. Es probable que se vean solamente en el próximo jueves. La dupla se gustan, pero son jóvenes demás para se amarraren. Sin embargo, si un día tuvieren coraje de convivieren con alguien, y públicamente con un hombre, serán un con el otro.
- ¡Luís! ¡Oye Luís!
- ¡Sí!
- ¿Qué pasa? Estás inmoble…
- Conocí un sujeto eses días… – Lucio se pone una cara de perro, celoso. Pero se controla mientras Luís continúa – Él es ciego, hecho vos.
- ¿Y?
- Hablé de nosotros. Pensé que fuese comprender. Joven… Ciego… Quiero decir, acostumbrado con los prejuicios. Me parecía inteligente…
- ¿Y?
- Habló que soy un degenerado sinvergüenza por aprovecharte. Habló que deberías avergonzarte. Que tú, allá de ciego, maricón. Una maricona cieguita. Por qué desmoralizar a todos los ciegos. Ya son motivo de piedad y ahora de vergüenza. Casi gritó. Creo que solo se controló para no llamar la atención.
- ¿Cómo se llama ese tío?
- Thiago.
- No lo conozco y ni quiero. Si alguien se apiada de mí tengo piedad de él. Y tú no eres un sinvergüenza. ¿O eres?
- Un poquito…
- Eso me encanta.
Los dos ríen. Imagino que tú, persona que lees la historia, has percibido eso, el humor en la plática de los amigos.
- ¿Te apiadas de mí?
- ¡No!
- Entonces creo que no tenemos más nada a hablar. Soy ciego. Soy hombre. Me mantengo. Tengo orgullo de conocerte y de amarte. Por mí esa charla se encierra ahora. No tengo miedo de ser feliz, hombre. ¡No tengo!


¹ Daslu es una tienda en Brasil frecuentada solamente por personas pudientes. Daspu es una tienda en Brasil perteneciente a una ONG que trabaja con las profesionales del sexo; Daspu es “Das Putas”. Sin embargo, sus clientes no son necesariamente profesionales del sexo; solamente sus dueñas y modistas las son.

Para saber mais sobre nossos amigos, leia:


 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista; professor de Português, Literatura e Artes. Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às quintas-feiras. Texto original escrito entre 16 de julho a 16 de setembro de 2010 e publicado na extinta revista eletrônica Nota Independente; criada e administrada pelo casal Bruno Grossi e Diane Mazzoni. A versão atual foi trabalhada entre os dias 20 e 25 de agosto de 2016.

Comentários

Postagens mais visitadas