Memento Mori

Sempre que resolvo escrever uma crônica, penso duas vezes antes de fazê-la. Não gosto de exteriorizar minhas filosofias, não obstante, algumas crônicas não são escritas... elas simplesmente nos surgem. E hoje, foi um dia em que uma crônica simplesmente surgiu em minha vida. Uma situação comum e rotineira, que talvez eu viva várias vezes e outra incomum me fizeram ter reminiscências desta velha frase latina que meu superego sempre recita nos meus ouvidos, nunca me deixo esquecer do “Memento Mori”. 
Talvez, o querido leitor não se recorde das tradições da antiga Roma... para eles, conto a pequena história desta frase. Toda vez que um general romano chegava de uma vitória ele era então convidada a passear na cidade das sete colinas sobre uma galé, neste momento tinha sobre sua cabeça depositada uma coroa de louro e então, durante o seu caminho, era agraciado com toda espécie de salva de elogios e palmas. No entanto, aquela civilização tinha uma preocupação importantíssima... Nunca um homem deveria se achar mais poderoso que outro, prepotente ou se esquecer de que na morte todos eram iguais, assim como em vida. Nomeava-se, então, um servo do vitorioso que ia junto a ele na galé dizendo a expressão “Memento Mori” – algumas literaturas trazem “Respice post te! Hominem te esse memento”-. Mas, afinal, o que diz a tradução da expressão? Ela diz de forma contextualizada “lembre-se que é humano, que irá morrer e que nunca será maior ou menor que ninguém, é acima de tudo... homem” – em tradução literal: Olhe para trás e recorda que é homem e morrerá”. 
Quando estava no ponto de ônibus aguardando chegou uma senhora perdida... dizendo não saber horários, apressada e por não mora na zona urbana, desconhecia completamente as rotas da cidade e precisava chegar a casa de sua irmã. Nesta situação tão comum quando se está em um ponto, me levou ao fenômeno da contratransferência – senti empatia e me senti como se aquela senhora fosse eu... Depois que a ajude, dei orientações básicas, subimos no transporte e então comecei a refletir... como todos nós somos seres humanos e como somos exatamente iguais nas diferenças e diferentes nas nossas igualdades. 
Viajei em minhas próprias utopias, recordando de um acidente automobilístico que avistei logo pela manhã e minha memória me levou até a expressão lembre-se que todos morrem... tentei trazer a boca a frase em latim, não veio, fiquei no “Quod Mortis”, nada a ver com o que queria, até que ad posteriori me veio “Memento Mori”... Esta frase que quando esquecemos a vida perde o sentido, tornamo-nos prepotente demais e humanos de menos. 
Infelizmente, o que mais se ver na atualidade, são pessoas que não tem o “Memento Mori” em seus ouvidos. Por uma faculdade, por um carro, por dinheiro, por conhecimento, por diversas razões... acabam esquecendo-se que a imensurável grandiosidade que podemos ter é a humanidade, é a empatia... Os bons sentimentos e as boas ações superam tudo... Todos nós no findar morreremos e não seremos lembrados por carreiras, por dinheiro ou status – isso se limita a vida... “Memento Mori”.



Josué da Silva Brito

Escritor, paracatuense, acadêmico de medicina e militante dos direitos humanos. Tem seis livros publicados.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente aos sábados.
Contato: josuedasilvabrito1998@gmail.com

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Comentários

  1. Sim, verdade!
    Não esqueçamos do memento mori e nos lembremos do transit hora manent opera.

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