1º de Maio: As velhas e as novas disputas (ESPECIAL DIA DO TRABALHO)



Meu dia é segunda, mas devido ao dia, farei exceção...

Há um esforço, desde a queda da URSS, em 1991, de manter qualquer elemento do legado da luta dos comunistas no mundo debaixo dos escombros do leste europeu. A queda não foi apenas de um modelo, de uma forma de Estado ou de uma unidade nacional, mas de uma ideologia política, de todo um léxico filosófico... Ou assim se quer fazer parecer.
As militâncias mais fortes hoje pararam de questionar o sistema em si, foram para os espaços marginalizados por ele, procurando provar que o discurso vigente tem lacunas que devem ser inseridas ou analisadas, resistência virou estilo de vida, cor de pele e sexualidade diante da inércia proporcionada pelo “fim da História” que caiu sobre nós (Ou nos foi imputada) como uma hecatombe após o fim da Guerra Fria.
Muitos comunistas se liberalizaram, aceitaram a derrota de cabeça baixa, o conceito de “classe social” foi, convenientemente, tido como “paradigma” ultrapassado e se determinou que as contradições da sociedade não são, de forma alguma, econômicas (Pois, em algum momento da criação, um deus teria criado a taxa “natural” de desemprego), mas culturais e discursivas, referências simbólicas que se digladiam dentro de um sistema vigente que se reporta como homogêneo. Provar que este sistema não é homogêneo, mas repleto de pluralidade, é a ordem do dia... E só até ai. Qualquer coisa além disso é uma utopia perigosa e desconhecida, que pode ressuscitar um Stalin (Na verdade um espantalho) ansioso por mandar suas próprias entranhas mortas-vivas para um gulag devido aos anos de abstinência no túmulo.
Essa supressão de símbolos da luta dos trabalhadores, do conceito de classe e das tentativas comunistas afeta a importância dada a este 1º de maio na memória da população, que o vê já apenas como um feriado. Essa neutralização da radicalidade no discurso de esquerda, essa ligação à institucionalidade da qual as grandes representações de “esquerda”, como PT, PCDOB e PSOL não conseguem se desvencilhar e as quais outras representações estão ansiosas por se inserir fazem com que palavras de ordem como “revolução” se diluam ou se tornem formalidades. Questionar o sistema parece fora de questão, assim como manifestações de rompimento com este parecem coisa de “adolescente sonhador” e constrangedores. O 1º de maio vira um dia qualquer de feriado, um dia pra dormir até tarde... Assim como revolução virou uma palavra válida apenas no campo da informática, ao que parece. O privilégio de ser explorada (o) por patroa mulher, um patrão ou patroa negro (a) ou um LGBT é absurdamente tido como, olhem só o alfa-ômega nesta sentença: Um privilégio. Passamos a pedir pouco, muito pouco.
Mas  se o núcleo duro da significância simbólica do dia do trabalhador se diluiu, o que ele antes significava, em tempos de ânsia por revolução política? A memória de que direitos não caem do céu!
O dia 1º de Maio é um feriado internacional, comemorado em diversos países do mundo, haja visto que a luta dos trabalhadores acompanhou a internacionalização do capitalismo europeu através do mundo, ganhando, claro, contornos locais em cada localidade, mas sempre tendo em mente um núcleo sobre o qual as diferenças laterais rondam: A exploração do trabalho no capitalismo e o conhecimento de que a inércia dos trabalhadores é prejudicial para estes.
O dia 1º de maio foi estabelecido em memória da luta por direitos que vem sendo, desde os anos 70, questionados e, em diversos lugares, derrubados (Como no Brasil, recentemente, com a infame e imoral reforma trabalhista do governo do interventor Michel Temer), como o direito a férias pagas e trabalho de oito horas. Haveria alguma relação entre a superação prática e a superação simbólica dos ideais clássicos da luta dos trabalhadores? Obviamente que sim, há dialética entre o subjetivo e o objetivo. A prática da exploração e as formas de trabalho se modificam, afetam a sociabilidade, construindo novas referências simbólicas e criando possibilidades materiais de novas referências macroestruturais, como, ao mesmo tempo, simultaneamente, os símbolos da luta dos trabalhadores são questionados e desacreditados, criando uma nova economia simbólica capaz de mudar a prática. São estruturas que se influenciam mutuamente.
Há muito a se pensar sobre as representações do 1º de Maio hoje.
O legado que o 1º de Maio representa está ameaçado, este feriado representa luta tanto quanto no Século XIX, os trabalhadores daquela época não venceram a luta, mas deram passos... Enquanto existir a contradição da diversidade de interesses entre o capitalista e os trabalhadores e trabalhadoras essa luta persistirá, os direitos dos trabalhadores sempre serão questionados. Porém, como a situação atual do Brasil pós-golpe de 2016 nos comprova: Essa superação do conflito de interesses de classe não se dará pela conciliação.
Revolução não é uma palavra velha! A disputa pelo significado desse termo é, agora, uma luta que também devemos travar... Algo novo a se lembrar em um futuro 1º de Maio.

(In)feliz Luta de classes nesse 1º de Maio



SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo três livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com







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