Carcaça



Tudo que ataco é a mim mesma...
Toda decadência que critico é a minha própria...
Todo clichê que percebo me pertence...
Sou inimiga de mim mesma...
Odeio a mim desde que substitui o “quem sou eu” pelo “quem és tu”, me entreguei à tentação de decifrar o enigma que sempre representou para mim. É sempre você, por mais que “eu” sempre pareça estar em questão, aquela de quem vi pouco, mas o suficiente para desejar me afogar, a nudez que mais desejo descobrir, a pele que mais desejo tocar, e é nesse híbrido de racional e irracional, carne e mente, que me perco, que tropeço em seu labirinto, lugar no qual odeio estar, mas não quero sair.
Eu disse, no dia que me matou em sua varanda, que um pedaço meu ficaria em sua posse. Nunca havia parado para pensar na literalidade dessa afirmação.
Que eu volte para mim mesma...

Que você nada mais seja para mim do que um mito de criação, o local para o qual eu vire meu olhar e pense “foi dali que vim, foi ali que morri, foi ali que nasci, foi lá que aprendi o valor da solidão nos cumes gélidos.”. Porém nestes cumes que tenho feito eu senão perguntar-me “quem és tu?”, morri a tentar responder, ainda assim minha pútrida carcaça rasteja nessa direção, sem pernas, sem boca, sem fala, sem pele e disforme, como uma lembrança distante, de um sonho corriqueiro.


SUED

Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com






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