Aliterações - Renato Gomez (Resenha)
Entrei
em contato com o livro Aliterações, do Renato Gomez, em 2014, mas não lhe dei a
devida atenção na época, talvez por eu ser novata nesse universo literário,
tendo começado a escrever no ano anterior e ainda descobrindo o terreno onde
estava pisando, experimentando pouco e estranhando formas de escrever mais
ousadas. Em 2016, uns três livros e cinquenta contos escritos depois, pude dar
a leitura que merecia, e percebi que é uma obra simples, direta ao ponto, mas
extremamente conceitual e bela.
Sendo
a coletânea de poemas pensada desde o início como ebook, o autor brinca
constantemente com essa torrente de informações que é a internet, fazendo com
que sua poesia seja constantemente intercalada por informações adicional,
descrições rápidas e termos repetidos em outros idiomas.
TER
O ter
É
Out!
Tudo
É não
Ter
Nada!
Never!
Forever
É ter na mente!
(Poema "Ter", da coletânea "Alterações")
Esses
poemas frios, intercalados, cheios de ansiedade e sentimentos comuns da contemporaneidade
apressada, uma época onde se lê sem absorver, que absorve sem filtrar e onde os
sentimentos mais poderosos e intensos são esmagados pela frieza da rotina.
Renato Gomez consegue construir muito bem essa ponte, abarcando os dois lados
de nossa realidade: O desejo pela intensidade e a frieza do cotidiano. Poemas
poderosos, emoções belas e fogosas enclausuradas pela forma picotada, disforme
e líquida são a pedida em Alterações.
Termino
essa crítica respondendo a um post feito pelo Renato há algumas semanas, onde
afirma que conseguir leitores é uma inglória tarefa. Concordo, mas Renato Gomez
não é pra qualquer um, sua literatura extremamente conceitual causa estranheza,
que pode ser superada com um olhar mais aprofundado, porém são poucos os que
estão dispostos a olhar por baixo da superfície. Aliterações é um livro para ser
lido e relido, não apenas por ser ótimo, mas por guardar tesouros escondidos
que merecem atenção e que podem não ser percebidos em uma primeira folheada.
SUED
Nome artístico de Línik Sued Carvalho da Mota, é romancista, novelista, cronista e contista, tendo dois livros publicados, também é graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri. Militante comunista, acredita no radicalismo das lutas e no estudo profundo de política, sociologia, História e economia como essenciais para uma militância útil.
Escreve ao Ad Substantiam semanalmente às segundas-feiras.
Contato: lscarvalho160@gmail.com
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